13 fevereiro 2006

Carta Capital desta semana

Êta revistinha boa, sô. A última edição traz uma reportagem prá lá de instigante do Pedro Alexandre Sanches sobre os rumos da música "popularesca" no Brasil, algo que eu já tinha percebido na minha última viagem a Recife, em junho do ano passado. Resumindo, apresenta os novos meios de produção que vêm surgindo espontaneamente em diversas regiões do Brasil, favorecidos pelo acesso das camadas mais pobres ao meio digital, no caso, à produção de discos de fundo de quintal. Como conseqüência, o sucesso de movimentos de periferia como o funk carioca, hip hop e pagode paulistano, forró estilizado de Recife, o arrocha da Bahia e tantos outros. Apesar de não concordar com o caráter conclusivo (sugere o fim da indústria musical hegemônica hoje) embutido nas entrelinhas - pois o assunto é muito mais complexo e indefinido do que supõe nossa vã filosofia- sem dúvida é material pra muito produtor musical refletir. Minha opinião é que realmente existe uma movimentação de pseudo-produtores digitais pelo Brasil - nem poderia ser diferente com tanto computador por aí - mas, penso que, assim como quase tudo hoje, sejam fenômenos localizados, restritos aos respectivos nichos, excepcionalmente saltando além de suas fronteiras na condição de modismo (caso do funk carioca que já chegou a alguns países europeus). O mundo hoje é das tribos, sejam elas dos centros ou das periferias, e para cada Calypso que surge, morrem diariamente milhares de "artistas" similares, assim como para cada Pitty, legítimo fenômeno da indústria, equivalem milhares de cantorazinhas no mesmo estilo, que jamais vão ter chance alguma. No mais, o Calypso de hoje é o Tchan de ontem, e os filtros vão sempre continuar existindo, assim como os modismos. Se compliquei, vou tentar simplificar. Um: essas milhares de porcarias vão continuar sendo feitas, cada vez mais, e - salvo raras exceções como o citado Calypso - vão morrer imediatamente. Dois: a indústria representada pelas majors, redes de comunicação e grandes escritórios de produção vai continuar hegemônica. Três: a dita "música culta", ou "de qualidade", também vai continuar a ser feita, e vendida mais caro ao seu público específico, assim como a música erudita, a infantil, etc. Como diria o filósofo Riachão, cada macaco no seu galho.

A revista traz também uma análise/matéria de capa perfeita sobre o atual momento da campanha eleitoral: impasse Alckmin x Serra e a recuperação do Lula, que bate exatamente com o que penso.

Carta Capital dá um banho de transparência e equilíbrio nas concorrentes, em especial na intragável Veja.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sobre a parte final deste post, e como complemento atrasado do "Tucanos em Desespero" (10/02), reproduzo abaixo texto da articulista da Folha, que teve que dar o braço a torcer:

Folha de SP, 29/01/06
Eliane Catanhêde
Hoje, é assim

BRASÍLIA - "O candidato Lula de 2002 era um mito cheio de promessas: as de mudança (para a classe média e os pobres) e as de bom comportamento (para o mercado e as elites). A soma foi imbatível. Ele ganhou bonito, do início ao fim.
Já o candidato Lula de 2006 não tem nada de mito, nem de promessas. Ele tem o discurso popular, uma natural exposição na mídia e números para mostrar, sempre com uma de duas frases, ou com as duas juntas: "Nunca ninguém fez isso neste país" e "meu governo ganha em todas as áreas do governo FHC".
O salário mínimo aumentou, o desemprego caiu, a renda subiu, a balança comercial bate recordes, o governo está tapando buracos, o Bolsa-Família é um sucesso internacional, o preço do arroz e do cimento é uma festa para as classes "C" e "D". Elas não ganham eleições, mas ajudam a formar o discurso -o do "homem humilde, igual a você, que chegou ao poder" e o do "presidente que mais fez pelos pobres". As elites e os intelectuais adoram.
Poucas vezes, de meados de 2005 para cá, se viu Lula tão saltitante, tão seguro e tão animado. Ele sempre se sentiu virtualmente reeleito, mesmo quando diziam que avaliava se seria ou não candidato. A diferença é que se sentia "virtualmente reeleito". Agora, já se sente reeleito de fato.
Pefelistas e tucanos dão de ombro, na suposição de que, "quando a campanha começar", vai ser um passeio. Basta ir para à TV e bombardear Lula com CPIs, Waldomiros, Santo Andrés, cuecas e Land Rovers. Pronto!, Lula estará no chão. Não é tão simples. Esse filme já cansou, e os números de FHC realmente não animam. Quanto ao crescimento pífio? Que os tucanos atirem a primeira pedra...
Um dos erros básicos do PSDB e do PFL é imaginar que a campanha não começou. A deles, pode ser que não. A de Lula está indo de vento em popa, a ponto de ele apostar que, em abril, já terá, em caixa, índices suficientes para comprar o PMDB. Vai ser a primeira derrota tucana em 2006".

Um abraço, mano!