24 março 2006

Capote, o susto e o filme

Fui assistir a "Capote" numa dessas salas de shopping. Começa o filme, e um susto. Havia um casal sentado na fileira logo à minha frente e, ao cruzar as pernas, devo ter esbarrado com o joelho na cadeira que o homem estava sentado. Deve ter sido bem de leve, confesso que nem senti, mas o cara olhou pra trás - e então devo ter sido realmente descuidado. Alguns instantes depois - dessa vez eu nem tinha me mexido, juro - ele vira o pescoço de novo, me olhando feio. Ato contínuo, levanta-se e começa a gritar comigo, que nem louco, se eu ia deixá-lo assistir ao filme ou não. Com o susto, paralisei, e ele continuou gritando: porque eu fui sentar justo ali, porque eu resolvi ficar chutando a cadeira DELE, tanto lugar pra sentar e eu fui escolher logo atrás deles!!! Quando - naqueles intermináveis segundos com a platéia olhando pra gente - me refiz do susto, engrossei e mandei o dito praquele lugar. A "fera" enfiou o rabo entre as pernas e foi pra outra fileira, de mãos dadas com a mulher, que naquele instante já morria de vergonha. Mal pude acreditar, ora vejam. Se (eu disse: se) esbarrei o joelho na cadeira, bastava ele pedir - falando baixo - pra eu tomar mais cuidado, pronto. É por isso que volta-e-meia nego se mata nas discussões de rua, é só ter um 38 na cintura.

Quanto ao filme, apesar de demorar uns 15 minutos pra adrenalina baixar, achei sensacional, ainda que um tanto barra-pesada. Perturbador, questiona os limites entre a compaixão e a ambição, entre a ética e a genialidade. Ao mesmo tempo que entendemos as atitudes do Truman, relutamos em aceitá-las. No final, interiormente, caímos na mesma armadilha que ele montou pra si próprio: quem resistiria à chance de realizar a obra-prima da sua vida, mesmo correndo o risco de brincar com vidas - ciente de que estavam irremediavelmente perdidas? Os fins justificam os meios? Filmaço. A atmosfera é de arrepiar, a fotografia impecável, soturna - e a interpretação do Philip Seymour realmente valeu seu Oscar.

Nenhum comentário: