23 março 2006

Farsa Tucana, por Elio Gaspari

Reproduzo aqui trecho da coluna do Gaspari, feroz crítico do Lula, nO Globo de ontem:

Depois da farsa petista, a farsa tucana
ELIO GASPARI
Quem acreditou no monopólio da ética pela nação petista fez papel de bobo e, com razão, zangou-se. Só falta agora que essas mesmas pessoas resolvam acreditar no monopólio da ética pelo tucanato. Em matéria de parolagem vem aí uma sucessão presidencial onde se encontrarão Geraldo Alckmin e seu “banho de ética” e Lula com sua megalomania: “Está para nascer alguém que venha discutir ética comigo.”
Tome-se um exemplo destes dias, quando se discute a palavra do caseiro Francenildo Costa, aquele que chama Antonio Palocci de mentiroso. Que opinião uma pessoa formará desse cidadão depois de ler o seguinte diálogo:
— No sábado, eu tô aí. (…)
— Taí, se esse dinheiro sair, você pega uma boa bolada. (…)
— Quanto o senhor tem? Seis, é?
— (…) Tenho não. Dá uns dois.
Pode formar a opinião que quiser, porque Francenildo não tem nada a ver com essa conversa. Ela reproduz um trecho da gravação de uma cabala do deputado federal Domiciano Cabral do PSDB-PB com o empresário Julião Medeiros, seu sogro. (A Paraíba é governada pelo tucano Cássio Cunha Lima.)
O diálogo, gravado pela Polícia Federal com autorização judicial e divulgado no sábado pelo repórter Felipe Patury, não mereceu um só comentário da casa de banhos do PSDB. Na tarde de ontem, passados quatro dias da revelação, a página que o partido mantem na Internet tinha 32 notícias. Vinte e seis se referiam às roubalheiras-companheiras. Nenhuma mencionava Domiciano Cabral. Nem para que ele se defendesse.
É a lógica do Barão de Araruna (Osmar Prado na novela das seis) — “Não se discute maracutaia da casa-grande na frente dos criados.”
O PSDB repete a empulhação petista. Proclama-se monopolista da ética, e manda ver. Quer colocar seu candidato no Planalto julgando-se beneficiado por um habeas-caixa concedido pelo Padre Eterno. Fez isso no ano passado, quando impôs à choldra a permanência do senador Eduardo Azeredo na presidência do partido. Ele fora o cabeça de uma coligação partidária que recebeu R$ 9 milhões das arcas valérias.

Pois é, quem vai atirar a primeira pedra?

Um comentário:

Anônimo disse...

Está na Lei Complementar nº 105/2001 (que dispõe sobre o sigilo bancário):

Artigo 1º, § 3º: "Não constitui violação do dever de sigilo:
(...)
IV - a comunicação, às autoridades competentes, da prática de ilícitos penais ou administrativos, abrangendo o fornecimento de informações sobre operações que envolvam recursos provenientes de qualquer prática criminosa".


...ironicamente, esta lei foi sancionada pelo governo FHC. Este inciso, com um pouco de habilidade, pode muito bem ser utilizado na defesa de quem deixou vazar o extrato.