02 março 2006

Mar de Mineiro

Recebo cumprimentos pelo blog do meu amigo Nelson Angelo (obrigado, irmão). E, claro, não posso resistir à idéia de falar sobre o disco que fizemos juntos em 2001, somente com parcerias inéditas dele e do inesquecível poeta, também mineiro, Antonio Carlos de Brito - o Cacaso -, que já nos deixou há alguns anos.

Cacaso foi poeta e letrista excepcional, professor de teoria literária, crítico e ensaísta. Considerado um dos expoentes da poesia alternativa, ou marginal, da década de 1970, é autor de cerca de 200 letras de canções, muitas delas sucessos dos anos 70 como "Dentro de Mim Mora um Anjo", "Face a Face", parcerias com Sueli Costa, "Lambada de Serpente" com Djavan e "Lero-Lero" ("...gosto muito de fulana mas siclana é quem me quer") com Edu Lobo. Letrou peças de Villa-Lobos e foi parceiro também de Tom Jobim, Márcio Borges, Francis Hime, Joao Bosco, Elton Medeiros, Noveli, Claudio Nucci, Toninho Horta, Toquinho e outros.

Fruto de uma noitada no Villaggio, o disco começou a nascer quando, no meio do show, Nelson cantou uma canção que eu nunca tinha ouvido. Lembro-me que estava ocupado naquele momento com alguma tarefa, mas a melodia – belíssima - e a harmonia rebuscada de seu violão viraram meu pescoço na hora em direção ao palco. Não consegui nem prestar atenção na letra. Logo em seguida, outra porrada.

Como havia perdido a apresentação, tive que esperar o final pra perguntar a ele o que era “aquilo”. “Ué, sô, são parcerias inéditas minhas com o Cacaso...” Ainda perturbado, perguntei: inéditas?!! E tem mais?!!

“Ora, devo ter umas trinta ou quarenta, guardadas no baú”.

Pronto, na noite seguinte lá estava eu gravando tudo em MD.

Depois, foram semanas ouvindo e processando aquelas maravilhas, até que decidi levar a proposta do disco pro Thomas, que topou na hora.

Nelsinho caprichou: escreveu todos os arranjos, para todos os instrumentos. Um disco totalmente acústico, com piano, baixo, bateria e sopros e cordas. Além do seu piano, violão e guitarra, é claro.

Contou ainda as participações vocais das suas filhas com Joyce, Clara Moreno e Ana Martins (“Clareana”, quem se lembra?), mais duas faixas cantadas pela fabulosa Rosa Emília, viúva de Cacaso.

Os músicos? Gente da Sinfônica e feras indiscutíveis como Luiz Alves, Luiz Avellar, os irmãos Paulo e Cláudio Guimarães, Roberto Marques, Ricardo Leão, entre outros – além da participação do Nó em Pingo D’Água numa das faixas.

Ficou espetacular, com cara jobiniana, cheirando a mar - o "Mar de Mineiro".

As letras são verdadeiras jóias, e eu deixo aqui um trecho da faixa-título:
Preparar a hora e o lugar
Saber o tempo para recolher
Quem sentiu de sol a sol
A solidão do cais
Andou no tempo, dançou no vento
Bebeu o mar
Considero “Mar de Mineiro” como um dos “top-ten” da minha carreira de produtor fonográfico, disco antológico, fundamental e de cabeceira. Ainda está no catálogo da Lua Music, e é encontrado nas boas lojas, além das virtuais. Nelson Angelo é um dos maiores compositores/músicos/arranjadores do planeta. Quem é do meio sabe disso. Presença fundamental no Clube da Esquina, tem gravações que foram lançadas em todos os continentes, algumas delas fazendo parte dos recentes movimentos acid jazz e trip hop, na Inglaterra. Suas músicas mais conhecidas são: "Fazenda", "Simples" (só dele), "1 x 0" (letra dele para o clássico de Pixinguinha e Benedito Lacerda),"Tiro Cruzado" (com Marcio Borges), "Canoa, canoa" e "Coisas de Baladas" (com Fernando Brant), "Sacramento" e "Testamento" com Milton Nascimento, além de cerca de 60 composições em parceria com Cacaso.

Espero um dia ter nova oportunidade pra produzir mais coisas com ele. Certo, Nérsim?

Um comentário:

dOtruk disse...

Zé, por favor, faz contato comigo por mail!