10 agosto 2006

Dica cultural

Hoje, no Cinesesc aqui em SP, abertura do Festival Música Nova, com exibição do filme "A Odisséia Musical de Gilberto Mendes", dirigido por seu filho Carlos Mendes. A entrada é gratuita.

O DVD desse filme - obrigatório para quem pesquisa e estuda música - será lançado comercialmente pela Lua em outubro, e, claro, será uma honra pra gente ser parceiro de um projeto tão importante.

Estaremos lá, mais tarde.

Abaixo, matéria do UOL, de hoje:
"Sou transmoderno", diz Gilberto Mendes; filme sobre o músico abre o Festival Música Nova
ANTONIO FARINACI-Editor de UOL Música
O compositor santista Gilberto Mendes, 83, é um dos nomes fundamentais da música contemporânea brasileira. Autor de obras que misturam orquestra, fitas gravadas, xícaras de café e ventilador, Mendes, que se define como um "transmoderno", fundou, em 1963, o Festival Música Nova, que chega este ano a sua 41ª edição. O festival --que já promoveu a estréia no país de obras de autores de música contemporânea como John Cage e Karlheinz Stockhausen--, abre nesta quinta (10), em São Paulo, com a exibição de um documentário sobre a carreira de Mendes, e ele ganha, no dia 14, no tradicional Cine Roxy de Santos, um lugar na calçada da fama. "Ao lado do Pelé", ele comemora."A Odisséia Musical de Gilberto Mendes", dirigido por seu filho Carlos Mendes, faz um panorama da vida e da carreira do compositor --contado por depoimentos de músicos, imagens de arquivo e filmagens novas--, desde que tinha 22 anos até uma turnê recente pela Europa, em que acompanhou apresentações de trabalhos seus na Bélgica, Rússia, Holanda e Alemanha. O músico, que começou a compor inspirado pelas propostas do serialismo integral de Pierre Boulez e Stockhausen (que pretendia uma música totalmente baseada em séries calculadas que não se repetem), em seus mais de 50 anos de carreira já viu a vanguarda musical mudar de cara algumas vezes e acompanhou essas mudanças --seja como compositor ou como diretor artístico do festival (cargo que mantém até hoje). "No começo, eu fazia uma música mais ligada ao serialismo integral, mas eu nunca quis ser um serialista, minha música incorpora outros elementos. Por causa disso, na Europa eles dizem que sou pós-moderno. Mas eu mesmo prefiro que me chamem de transmoderno, que é como me defino. Isso quer dizer que eu transitei pelo moderno e suas variações", conta."Quando o Festival Música Nova começou, em 1963, nossa idéia era de que ele fosse um mostruário da música que estávamos fazendo, nós do grupo paulista, Willy Correa de Oliveira, Rogério Duprat, Damiano Cozzella e eu. Mas estávamos abertos a outras influências --só não valia música acadêmica e nacionalismo barato. Depois o festival virou um termômetro da música contemporânea, mostrando os caminhos que ela estava trilhando, com as reações naturais a essa rigidez do serialismo, que foi hegemônico or mais de 30 anos", avalia. A rigidez apontada pelo compositor foi uma das responsáveis no decorrer do século 20 por dar a essa "música nova" a pecha de difícil e por afastar o público. "A música contemporânea ficou muito estigmatizada por sua dificuldade --é como falar japonês para uma platéia que só entende português", comenta o músico, e relembra: "Antigamente, a gente brincava, 'meu concerto só teve dez pessoas', e competia pra ver quem tinha tido menos gente. Hoje eu sinto que há um desejo de se ter mais público".Mendes vê na música contemporânea produzida atualmente uma "coexistência nada pacífica" entre duas grandes correntes: uma ainda ligada aos ensinamentos do serialismo integral, outra mais permeável às repetições do minimalismo, ao uso da melodia, da tonalidade, modos e outras misturas que não eram admitidas pelos primeiros vanguardistas. Nas duas correntes, adverte o compositor, "há coisas boas e muita porcaria"."Na Europa, especialmente na França e Alemanha, a música contemporânea está mais ligada ao serialismo. Nos Estados Unidos, o pós-modernismo é mais forte. E as duas correntes se ignoram. O John Adams, por exemplo, um dos grandes compositores americanos, é desprezado na Europa", explica.Mendes acredita que a mistura de estilos na música de hoje seja um sinal dos tempos. "O compositor do passado só conhecia a música do seu tempo. A música barroca, por exemplo, tem no máximo alguma influência do Renascimento, que é o período imediatamente anterior. Hoje, por meio das gravações, você tem acesso a toda a história da música e à música do mundo inteiro. E é claro que isso vai parar no seu trabalho".E, se, no início da música contemporânea, houve a hegemonia de um estilo, hoje, Mendes acredita que já não haja uma tendência única nem uma direção única para a qual a música nova esteja se dirigindo: "A música contemporânea vai para onde o homem for. E eu não sei o que o homem do futuro vai querer, pois o ser humano de hoje já não quer coisas que antes parecia querer", filosofa o compositor.
Breve cronologia de obras de Gilberto Mendes:
"Nascemorre" (1963)"Beba Coca-Cola" (1967)"Son et Lumière" (1968)"Santos Football Music" (1969)"Blirium A-9" (1970)"Asthmatour" (1971)"Qualquer Música" (1980)"Concerto para Piano e Orquestra" (1981)"Ulisses em Copacabana Surfando com James Joyce e Dorothy Lamour" (1988)"Finismundo" (1993)"Tvgrama" (1995)"Alegres Trópicos - Um Baile na Mata Atlântica" (2006)

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