Agora, é guerra!

Sábado, pouco antes de pegar estrada, no elevador do prédio da Rô, um vizinho deu a senha: "vocês vão votar no Lula?...puxa, são os primeiros que encontrei a dizer isso..."

Ali, já fiquei cabreiro. No litoral, as pesquisas da noite acentuaram esse sentimento, e fui dormir angustiado.

Ontem, suei para conseguir mudar alguns votos de familiares, que haviam se convertido ao Alckmin nos últimos dias.

Era tarde. Deu no que deu.

OK, temos que aceitar a derrota momentânea. OK, temos que respeitar o voto do povo paulista, que ao mesmo tempo em que condenou previamente Lula - o homem que ressuscitou a Polícia Federal mais ativa da história - colocou nos primeiros lugares para deputado federal nomes como Paulo Maluf, Celso Russomano, Clodovil e Enéas.

Mesmo assim, mesmo vindo de falsos-moralistas, voto é voto - e o povo tem que ser respeitado.

Mas, nada - nunca - vai me tirar da cabeça que a mídia foi vergonhosamente manipuladora nas eleições de 2006. Essa vai ser a marca histórica deste período. Nem que eu viva cem anos vou me esquecer da atuação desonesta dos órgãos de imprensa; eu, que acompanhei diariamente os notíciários e que li (e comentei) blogs políticos até cansar, como brasileiro senti nojo, desculpem a expressão, de veículos como Folha, Estadão, Veja, Época, O Globo, Rede Globo e Rádio CBN, só para citar alguns. Ontem, os apresentadores de telejornais não conseguiam disfarçar a satisfação, o sorrisinho no canto da boca (não é, Carlos Nascimento, Salete Lemos, Alexandre Garcia e todo o pessoal da Globonews?...). Revoltante.

Não deixando de condenar determinadas ações de parte do PT, considero inaceitável que a cobertura tenha sido tendenciosa como foi. Isso é muito pior do que não levar no primeiro turno; remete aos tempos da ditadura, quando líamos o que os milicos queriam e a opinião era formada conforme o que eles desejavam.

Tanta luta por democracia não poderia ter deixado a situação chegar nesse ponto, onde mais uma vez fomos tratados como gado. Sem reação, continuaremos a sê-lo.

Se o presidente Lula e o PT continuarem a aceitar passivamente esta situação, se não conclamarem a militância e as pessoas esclarecidas e justas deste país para reverter este processo, então merecem mesmo perder o poder. Se continuarem de cabeça baixa, na defensiva, demorando para tomar atitudes, vão mostrar - definitivamente - que a oposição está certa. Se Lula continuar agüentando, quieto, insultos como os de HH - que não teve dó de chamá-lo de ladrão e chefe-de-quadrilha - sem esboçar reação, é porque não tem fibra para cuidar do Brasil e de seus graves problemas.

A hora é de reação. FHC fez isso com o PSDB, convocou-os, ainda que de maneira golpista, a "botar fogo no palheiro". E isso foi feito, efetivamente.

Para Lula e o PT não há saída, senão atacar para poder se defender. Isso tem que ser feito desde já: escancarar logo essa investigação da origem do dinheiro, doa a quem doer; punir implacavelmente todos os responsáveis; abrir esse mesmo dossiê, fazer estardalhaço sobre seu conteúdo; focar os vestidos da primeira-dama paulista, as 69 CPIs enterradas pelo Alckmin e dizer ao público o que elas iriam denunciar; trazer a era FHC de novo aos holofotes: privatizações, compra de votos para reeleição, Proer, Azeredo e o valerioduto, ambulâncias e a gestão Serra/Barjas.

Sem meias-palavras, é hora de botar fogo no palheiro também. Se Lula perder sem lutar, jamais o perdoarei.

Chega de paz-e-amor. Agora, é guerra.