31 outubro 2006

Peter Pan, Fernando Brant e Mário Quintana

Na década de 1980 fez sucesso no Brasil um livro chamado "Síndrome de Peter Pan". Nele, o autor tentava explicar porque certos adultos ainda tinham um comportamento infantil em determinados momentos da vida, como se se recusassem a crescer (tal qual o Peter Pan propriamente dito).

Até onde sei, essa teoria nunca foi totalmente aceita, mas, durante muitos anos, fez parte do repertório de debates em salas-de-jantar e botequins.

Penso que algum fundamento ela deva ter, já que minha infância em São Sebastião até hoje norteia grande parte das minhas ações, desejos e emoções.

Não queria estender-me em considerações tão pessoais, mas não resisto em postar uma foto da praça Major João Fernandes, com a igreja matriz ao fundo, tirada lá neste último fim-de-semana:
A praça da minha infância.

Onde tinha o coreto e a banca de revistas dos velhinhos franceses - Denise e Armand, origem dos primeiros gibis da Turma da Mônica. Onde vendia sorvete do Rocha num pequeno isopor e engraxava sapatos pra ganhar uns trocados. Onde brincava de pega-pega e esconde-esconde.

Dali, via os taxistas matarem, com espingarda de chumbinho, morcegos que dormiam nas copas das enormes árvores. E ali meu saudoso tio Toninho era vigia da estação central de esgotos.

Na quadra ao lado ficava o único cinema da cidade, Cine Alvorada (depois Cine Máximo) e a fundamental casa do avô Benedito, meu segundo lar. Colados, os bares Roma e Tremendão (este, do "seu Alcides"), onde outros tios que se foram - Didico, Carlos, João e Tião - exerciam bravamente a boemia possível da época e onde, certamente, está a origem da minha boemia.

Em outra, a padaria dos irmãos Aristeu e Domingos. E noutra, o "misterioso" Hotel Roma, onde - sei lá por quê - nunca entrei.

Do outro lado da praça, a secular e imponente igreja do padroeiro, onde fui batizado, fiz Primeira Comunhão e fui crismado. E, de frente, a saída para a "rua da praia" e para a escola, entre a loja de armarinhos do "seu Elias" e a Câmara Municipal, onde meu pai foi vereador e presidente.

A praça era o centro de tudo, o coração da cidade, onde todos se encontravam. Há tempos deixou de ser. Aliás, São Sebastião nem coração tem mais - só interesses econômicos e políticos. Felizmente está bem cuidada, mas, salvos os prédios públicos, coreto e igreja, todo o entorno praticamente acabou: cinema fechado, comércio morto, casario mal conservado, pouca gente nas ruas e lojas.

Aquele quarteirão cheio de vida sobrevive apenas da minha memória afetiva. E, provavelmente, de mais alguns caiçaras da época.

O menino da foto é meu filho, Lorenzo. Será mesmo?...Ou serei eu, correndo de pés descalços pela praça da minha infância?

Como diz a letra do mineiro Fernando Brant:

Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão


O poeta gaúcho Mário Quintana foi mais fundo:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...

5 comentários:

Anônimo disse...

Nossa primo, que saudade de tudo isso, inda hoje estava dizendo pros meus filhos, q se Deus viesse à terra e me perguntasse qual o meu maior desejo, eu diria que gostaria de voltar a ser criança novamente...

Anônimo disse...

Zé... o que gosto de ler neste espaço são as suas "memórias", tanto as da infância quanto as do Villaggio (pq as considerações sobre política vc já sabe, né?... respeito, mas não concordo). Se eu o conheço um pouquinho, aqueles textos estão guardados num diretório especial, em ordem cronológica. Se não estiverem, deveriam... pois aí está o material perfeito para uma autobiografia. Bj, bj, Ro

Zé Luiz Soares disse...

Prima, concordo tanto com você, que minha maior preocupação é que o Lorenzo brinque o máximo possível.

Rose, grande dica (pra variar), vou passar a arquivar tudo.

beijos, queridas.

Edildes disse...

Zé ,Fizeste viajar nas linhas do tempo com seu texto ....Doces lembranças ...Saudades do meu Pai ....obrigada amigo por trazer a minha memória o valor da terrinha que tanto me ensinou ,e que adotei como minha terra natal . beijos no coração.

lindo teu pequeno .

Valeria disse...

Parabens , Zé

Consegui me transportar num período que sempre rodeia minha mente, nesta vida de expatriada a 12 anos. Impossível deixar de cultivar os bons e velhos temos na minha terra natal. Melhor ainda lembrar que meu Tio Tiao Gaia, trabalhava e era amigo do seu querido Pai . Sao Sebastiao abençoe e proteja a nossa Sao sebastiao. bjs