21 novembro 2006

Ainda sobre o feriado

Leio no blog do Luis Nassif (clique aqui, mas repare que são vários posts) um amplo e produtivo debate sobre racismo, conduzido por ele junto aos seus leitores.

Vou falar sobre o assunto como leigo, correndo o risco de derrapar em alguma coisa.

Sou contra o feriado, assim como sou contra o dia da padroeira, de finados ou de São Jorge. Acredito que o debate sobre racismo - e outros temas polêmicos - deva existir diariamente e não com data marcada, e acredito que a tecnologia e a internet com a democratização da informação e da discussão, vão contribuir para melhorar, e muito, isso.

Fui criado junto a muitos meninos brancos. E pretos. E japoneses também. Crianças pobres, remediadas e ricas, juntas - uma das grandes virtudes da escola pública. Da escola para a rua, campinho de futebol, praia ou montanha, éramos apenas meninos nos divertindo.

Recebi algumas tentativas de influência racista na infância, mas - fora alguma atitude infantil tola e impensada, e logo corrigida - nunca me deixei convencer. Meu maior amigo de infância era (ainda é...) negro, e já namorei negras, japonesas, ruivas e índias. Aliás, apesar de branquelo, tenho sangue índio nas veias (minha avó materna), e o avô materno do meu filho era negro.

No Villaggio, em 1997, iniciamos esse processo da retomada do samba - que ocorre em São Paulo com força hoje - e quase 90% do público desses anos todos era negro. Lá tivemos pelo menos duas reuniões de movimentos negros para entrega de medalhas e diplomas. Um café com nome italiano, com nome italiano, no Bixiga, sendo um reduto de negros - vejam que maravilha.

E, sabem qual era nossa única preocupação? Que não se tornasse, como rótulo, um "reduto" de negros... Nesse sentido, tomamos o cuidado de nunca ressaltar o fato junto à imprensa, simplesmente porque somos contra "redutos".

Porque acreditamos que o ser humano é igual, que todos devem coexistir em igualdade de condições. Que alma não tem cor, como disse o André Abujamra. E consciência também.

Pra nós não eram clientes negros; eram clientes, apenas. E bons clientes, diga-se. Muitos se tornaram grandes amigos - por serem especiais, não por serem negros. Já tivemos funcionários negros (vários), nordestinos (a maioria), brancos e até uma mestiça de negro e japônês (linda!).

E, pra quem ainda tem visão distorcida sobre o assunto, vale o registro: nos seus 14 anos de vida o bar foi assaltado à mão armada, duas vezes. Por brancos.

É assim que eu vejo essa questão. Não gosto de radicalismos, prefiro atitudes ponderadas e debates civilizados. Acredito que pequenas atitudes diárias, comportamentos rotineiros, gestos simples, funcionem melhor. É uma questão de educação, a meu ver. E de exemplos.

Vamos cobrar dos governos educação, justiça social, emprego, saúde. O resto vem naturalmente.

É isso.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom, Zé !

Torço pelo dia em que não precisaremos mais discutir sobre racismo (seja ele qual for), por que o dia em que isso acontecer significará que ele não exista ou que já passou a ser insignificante.

Fábio