Assim fica mesmo difícil. Durante quase um século, o Brasil fundamentou boa parte da sua cultura na chamada "canção popular". Desde o samba de Donga até o rock dos anos 80, passando pelo choro, valsa, frevo, maxixe, toada, bossa-nova, baião, marchinhas, canção de protesto, moda de viola, bregas em geral,e um monte de outros gêneros. Tudo isso é canção popular, tudo isso é MPB.
Dos anos 90 em diante, por diversos motivos, a coisa degringolou, a música brasileira mais comercial virou a tríade "pagode-axé-sertanejo", e MPB passou a se chamar aquela coisa mais "elaborada", mais "de qualidade", na linha Caetano-Chico-Gil.Pra muitos, isso é MPB - e só isso.
Uma simples sigla - MPB, Música Popular Brasileira - virou um rótulo. Como tal, acabou sendo uma praga pra quem, como eu e vários artistas, músicos, produtores, compositores, letristas, gente da maior qualidade e talento, passassem a ser desrespeitados dia-sim-dia-não, nos mais inusitados lugares. Desde a festinha de Natal ("pô, tira esse João Gilberto aí e bota logo um Bruno e Marrone!!") até nos grandes jornais e suas colunas "descoladas".
Querem um exemplo? Vejam esta nota na coluna da Mônica Bergamo, hoje na Folha:
A VOLTA DO DJ
Começou sob vaias o aniversário do Sambacana Groove, festa instalada há quatro anos no Copan. O público estranhou a ausência da tradicional discotecagem de samba-rock, substituída, à meia-noite, por um show de MPB. Depois das vaias, os DJs reassumiram os picapes.
Nada contra uma festa "muderna" no edifício Copan, que deve ter virado point de "descolados" do centro da cidade (morei lá entre 1985 e 1988, e não era), gente "muderna" que busca badalação "muderna" embalada por música eletrônica "muderna". Nada contra.
Os equívocos são dois. Primeiro, se for verdade mesmo, de quem colocou show de MPB (lá vai o rótulo) num evento desse.
Depois, de quem redigiu essa notinha, carregada de preconceito e veneno. Pelo menos, foi assim que eu a li.
De qualquer maneira, o que se reinvidica é o mesmo espaço para todos os tipos de manifestação cultural na grande mídia. Essa é a conversa mais batida, a grande choradeira. Cadê a notinha na coluna social falando que a apresentação (de MPB...) de fulano de tal foi aplaudida de pé num Sesc ou na Tom Brasil, ou mesmo no Villaggio, com milhares de pessoas em êxtase total (isso ocorre sempre, sabiam?...) ?
Não tem. No máximo, uma linhazinha no final avisando sobre um show.
Parece que esse pessoal vive da ânsia de ser "muderno", a qualquer preço.
Enquanto isso, nós, "dinossauros da MPB", vamos tocando o barco, tentando sobreviver, fazendo a música que achamos boa - e ponto final.
16 janeiro 2007
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