Curtindo suas férias escolares, antes de viajar com a mãe, o pequeno Lorenzo (nem tão pequeno assim, nos seus sete anos em meio) veio passar uns dias comigo.
Chegou no domingo, foi embora ontem. E fez o favor de deixar um imenso vazio no sobrado de Pinheiros.
Tentando conciliar o trabalho com a atenção que devia (e queria) dar a ele, não tive alternativa a não ser dividir o computador com a nova "fera" do Powerpoint e seus slides de super-heróis.
Deixa acumular o trampo, que infância passa muito rápido!
Mas, claro, não ficou nisso. Segunda à tarde, cinema no shopping: Shrek III, as pipocas mais caras do mundo e aquela coisa toda insuportável que cerca esses templos idiotas do consumo.
Mas, sobrevivi. E até que o filme não foi ruim; mas também não foi nada demais.
Melhorou muito quando saímos dali e pegamos o rumo da acolhedora Livraria da Esquina, com ótima música instrumental ao vivo, bons livros infantis, amigos, calor humano, cervejinha gelada (de garrafa) - e preços normais.
Quanta diferença! O povão tolo e consumista das Saraivas e FNACs realmente não sabe o que é bom.
No dia seguinte, também no final da tarde, arriscamos um passeio pelo centro da cidade, mais precisamente na região da Luz, com sua iluminada Estação. Acreditem, em 22 anos de São Paulo, ainda não tinha pisado lá. Cruzando a passarela que passa por cima dos trilhos - de resto, um visual belíssimo - do outro lado acessamos ao surpreendente Museu da Língua Portuguesa, projeto arrojado, moderno, consistente e emocionante. Audiovisuais, exposições de objetos e livros, aulas completas sobre a história e a importância do nosso idioma, tudo muito bem feito e bem cuidado. Coisa de primeiro mundo, por apenas R$ 4,00.
Um pouco mais à frente, e pelos mesmos R$ 4,00, outro lugar que ainda não tinha ido: a maravilhosa Pinacoteca do Estado. Pra nossa sorte estava rolando, além da exposição permanente com telas históricas e esculturas impactantes, uma outra, temporária, com quadros do Palácio de Versalhes - e todos os seus "reis luises de frança". Simplesmente espetacular.
Ali, a grande tirada do menino, dentre várias que tive a sorte de observar e saborear: alertado por mim, a todo momento, de que "não podia pôr a mão em nada", até porque as dezenas de atentos seguranças não tiravam os olhos do público, na hora de descer as escadas falei pra ele segurar no corrimão.
Aliviado, o pobre suspirou: "ufa, até que enfim alguma coisa que eu posso pôr a mão neste lugar!!"... E arrematou: "pai, as regras aqui são muito complicadas!!!"...
Ontem de manhã, ficamos recordando os "melhores momentos", e ele simplesmente tinha gostado de tudo. Shrek ou Pinacoteca, tudo foi importante, tudo de bom entrou naquela cabecinha totalmente receptiva às informações que a gente coloque nela.
Na saída, ao abrir o portão da garagem, passou pela calçada, bem na minha frente, um menino de rua, cheirando cola. Igual a tantos que a gente vê pelas ruas.
Fiquei imaginando essa criança com as mesmas oportunidades do Lorenzo, e aí veio aquele nó...Aquela sensação de impotência e inconformismo com tanta injustiça social, que piora muito quando me vejo diante do noticiário falando sem parar de Rorizes, Renans e seus bois milionários.
Até quando, gente?
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2 comentários:
Lembre-se da fábula do beija-flor que tenta apagar o incêndio da floresta, meu amigo: "estou fazendo minha parte"...
É...é como diz o Gil, sobre a concentração de renda, raiz de todos os males:
"mesmo uma pequena parte
já seria solução
mas a usura dessa gente
já virou um aleijão".
abraço.
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