28 agosto 2007

Casa de Areia

Numa rara demonstração de juízo, optei por ficar em casa ontem, noite de segunda. Um momento de auto-preservação, de vez em quando, não faz mal a ninguém.

Dei sorte. No Canal Brasil peguei, por acaso, o filme "Casa de Areia", de 2004, já com uns 15 minutos passados.
E gostei. Prendeu minha atenção até o fim, principalmente pela originalidade do argumento e do roteiro. Admiro idéias ousadas, e ousadia é que não faltou ali. Contar a saga de três gerações de mulheres - mãe, filha e neta - começando em 1910 e terminando no final da década de 1960, já é osso. E fazer isso lá dos cafundós do Maranhão, é tarefa das mais difíceis. Quem, como eu, já foi até o interior daquele estado sabe da precariedade geral da região - administrada secularmente pelos Sarneys.
Afora o bom roteiro, as paisagens muito bem captadas, a mão segura do diretor Andrucha Waddington, as surpreendentes atuações de Seu Jorge, Luiz Melodia e - claro, aqui sem surpresa - o show das duas Fernandas (com destaque para a filha que, se conseguir se livrar do carregado sotaque carioca, vai superar a mãe), o que mais me tocou no filme foi a abordagem do tempo como fio condutor da trama.
Na correria internética de hoje, ver a paciência dos protagonistas com tudo o que dependia do fator "tempo", foi como voltar ao passado, à época dos nossos avós. No filme, dois dias de viagem a pé são como ir até ali na esquina. Quatro meses de espera parecem quatro dias. Esperar nove anos a filha crescer para então tentar sair do meio das dunas parece a coisa mais natural do mundo.
E, o pior (ou melhor?), é que era assim mesmo. A vida passava diferente. As relações eram outras. Devagar, como quem espera uma floresta crescer, foram erguidos os grandes monumentos da humanidade, compostas as maiores obras de arte de todos os tempos, descobertas as grandes invenções do ser humano.
Muitas vezes questiono essa pressa geral. Já estou fechando a programação de outubro do Villaggio, daqui a pouco começa o bombardeio publicitário do Natal - e quase que eu nem vi o ano passar.
Isso lá é vida, sô?

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