06 julho 2008

O Apocalipse é hoje

Como se atendendo às minhas reclamações, a NET colocou em cartaz, via Telecine Cult, um dos filmes mais badalados de todos os tempos, Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola.

Lançado em 1979, é, até hoje, celebrado como um dos maiores filmes de guerra já realizados. Num brevíssimo resumo, pode-se dizer que a trama se desenrola em cima da saga de um tenente do exército americano (Martin Sheen) incumbido de matar um coronel (Marlon Brando, magnífico) que havia enlouquecido e montado uma civilização paralela nos confins do Vietnã.

Copolla pegou o tema "loucura" e mandou ver nos delírios dos protagonistas. É doideira pra dar e vender; todo o tipo de horror que uma guerra pode proporcionar, emoldurado por uma fotografia de tirar o fôlego e uma atmosfera sempre densa e sinistra.

Fiquei bastante empolgado com a possibilidade de rever mais um dos "filmes das minha vida", daqueles que - nunca sei bem porquê - não mais retornei após a primeira vez. Acomodei-me no sofá e decidi assistir com toda a atenção do mundo, mas, ao final, não pude disfarçar uma ponta de decepção, ainda que contrariado por isso.

Quase trinta anos depois, o mítico Apocalypse Now pareceu-me não ter resistido ao tempo. Ao contrário de Paris, Texas, outro "filme da minha vida" que já comentei aqui, A.N. não causou o mesmo impacto da estréia.

Explico: por mais que o planeta sempre tenha sido cruel, violento e doido, a impressão que fica é que os horrores do Vietnã - seu argumento principal - viraram fichinha nos tempos atuais. As explosões, corpos mutilados e atitudes mentalmente perturbadoras, que tanto chocaram as platéias na época, de lá pra cá foram virando coisas banais e corriqueiras a tal ponto que não horrorizam mais.

Chile, El Salvador, Líbano, Palestina, Uganda, Angola, Afeganistão, Irã-Iraque, Chechênia; IRA, ETA, Al-Qaeda e seus atentados terroristas pelo mundo, mostrados incessamente pela TV ano-após-ano (e hoje em dia com suas imagens tenebrosas disponíveis na Internet), meio que foram "amortecendo" o sentimento de angústia da humanidade em relação à violência e a loucura.

Hollywood também contribuiu bastante nesse período, com centenas de filmes sangrentos que se multiplicaram nos vídeos-cassetes (depois DVDs) e TVs abertas ou pagas.

Mesmo aqui no Brasil, pouca coisa ainda assusta. A guerra civil dos morros cariocas e PCCs paulistas; balas perdidas, chacinas, corpos cortados ou carbonizados o tempo todo; Carandirus, Tins Lopes, Champinhas, Suzannes e Nardonis ; tudo isso fez com que filmes como A.N. passassem a agredir nossos estômagos menos que um Cidade de Deus ou um Tropa de Elite, por exemplo.

Quer gente em pedaços? Basta clicar no Google "acidente da Gol fotos", que se abrem links para imagens dos corpos, ou o que restou deles (obs: não sei se ainda estão valendo, fiz isso uma vez ano passado e me arrependi na hora!).

Meu sócio me disse que uma amiga dele tem, em seu celular, um vídeo com um prisioneiro de guerra sendo decapitado. De vez em quando ela dá uma olhadinha ou mostra pros amigos...

Video-games tipo Playstation com jogos inacreditavelmente violentos são comuns nas mãos da criançada.

Talvez Coppola tenha sido um visionário ao antecipar o mundo de hoje, não estou bem certo. Penso que, na verdade, ao fazer o filme, ele estivesse cheio de boas intenções - querendo chocar pra ver se causava nas pessoas um sentimento de repulsa a tudo aquilo, vislumbrando um mundo melhor para as gerações futuras.

Se foi isso, infelizmente foi em vão.

Ficou o título, atualizado para 2008: Apocalypse? Now!!!

Um comentário:

Tatiana disse...

òtimo texto.
sim. now!