16 agosto 2008

Dorival Caymmi

E aconteceu. A gente sabia que, mais cedo ou mais tarde, ia dar de cara com essa notícia; aos 94, ele já estava doentinho fazia um bom tempo, desparecido de circulação. Ainda tínhamos esperança de que completasse seu centenário - nada demais, apenas uma forma de marcar, mais indelevelmente ainda, seu nome na memória nacional.

Mas, não deu.

Dorival foi um compositor de poucas canções. Se não me engano, umas 100 - praticamente uma para cada ano de vida. Pode até parecer muito, mas, hoje em dia, qualquer autorzinho meia-boca já tem 200, 300...até 500 músicas compostas. Que, juntas, não valem a unha do pé de uma Marina, Maracangalha ou Você Já foi à Bahia, só pra citar três das mais conhecidas.

Nem Tom Jobim conseguiu traduzir musicalmente o Brasil de maneira tão perfeita. Não só as peculiaridades da Bahia e de seu povo, mas - bem mais do que isso - o jeito brasileiro de ser. Um dengo, uma doçura que só existem por aqui, e que ele (assim como Jorge Amado na literatura) soube repercutir para muito além do Recôncavo.

Outro gênio, Aldir Blanc, certa feita tentou definir seu estilo de compor sambas e não conseguiu: samba-canção? samba-de-roda? samba praieiro? Optou então por "samba-caymmi", assunto encerrado. E, afinal, quem não gosta de samba, bom sujeito não é.

Não sou crítico musical e entendo muito pouco de composição. Mas nem precisaria ter estudado para perceber que a música de Dorival Caymmi extrapola tudo o que já se tentou explicar a seu respeito.

Caymmi talvez não tenha criado o Brasil, mas certamente deu-lhe formas, cores e requebrado.

Foi - e sempre será - o maior de todos. Um deus.

Tive a felicidade de conviver profissionalmente, um pouquinho, com seus filhos - num disco que produzi e num show dos três, como já descrevi aqui. Sou um privilegiado por ter desfrutado, ainda que minimamente, do "universo caymminiano" - e só isso já bastaria pra me considerar um sujeito com a missão cumprida na música.

Meu sonho é que meu filho também se encante com suas canções, e pra ele dedico este post, repetindo a foto já publicada aqui - ele ao lado de Nana, Danilo e Dori em São Sebastião, no ano de 2004.
Lorenzo: não perca as coisas de Dorival Caymmi de vista. Sem elas, sua vida não vai ter a mesma graça.

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