Pacto felino

Está acontecendo um fato curioso na mídia nacional. Algo surpreendente e, pelo menos pra mim, inédito.

Vou começar do começo. Tenho o hábito de ler diariamente blogs de futebol, dos principais jornalistas esportivos aos de torcedores. Um destes, hospedado num dos maiores portais do Brasil soltou um post onde dizia que várias personalidades do futebol estariam apavoradas por terem caído numa dessas armadilhas da internet de hoje.

Em resumo, os caras teriam feito sexo virtual - via MSN com respectivas webcams, com uma (suposta) belíssima garota. Que, por sua vez, mal intencionada, teria gravado essas imagens e as colocado em seu blog pessoal, a troco sabe-se lá do quê.

Com isso, o pânico estaria instalado no meio esportivo, já que a repercussão seria mundial e as consequências, imprevisíveis.

Uma rápida checagem no Google e foi fácil achar o blog. Deprimente: sob o apelido de "Felina", ela (ou ele...vai saber), postou várias imagens, paradas e em movimento, simplesmente chocantes. De jogadores famosos, artistas e anônimos - todos homens. Aparentemente, os manés (não tem adjetivo mais apropriado) caíram como patinhos e, num jogo de "mostra você, que eu mostro também", deixaram-se filmar em posições e gestos absolutamente constrangedores - pra dizer o mínimo.

Tava tudo lá. Algumas partes geravam dúvidas sobre sua autenticidade, mas outras eram impossíveis de se desmentir.

Não havia dúvida: estávamos diante de um dos maiores escândalos de todos os tempos. Conhecendo-se a internet e sua capacidade de disseminação, não demoraria muito pro assunto cair na boca do povo e explodir em todo tipo de mídia. Ainda mais nos dias de hoje, onde qualquer bobagem repercute fortemente - e com velocidade impressionante.

Pois bem, isso foi na quarta. Hoje é sexta, e sabem o que aconteceu?

Praticamente nada. Afora alguns blogs de fofocas, um site ligado a uma rádio famosa e uns dois programas sensacionalistas de TV (que falaram de cara, mas em seguida também se calaram), o que se viu foi um intrigante "pacto de silêncio". Nada nos grandes portais, nada nos jornais, nos blogs de maior audiência, nos programas esportivos ou de fofocas.

Todo mundo se fingindo morto, inacreditável. Até porquê o tal blog com as imagens continua no ar.

Nao há dúvidas: trata-se de uma "operação abafa" dentro da mídia brasileira. E, ao que parece, até da mundial, já que estão na linha de tiro jogadores da Seleção e de clubes europeus, trajando - em pleno ato - material de seus mega patrocinadores.

E aí, fico numa tremenda dúvida.

Moral e eticamente, estou de pleno acordo em não se dar espaço a esse tipo de baixaria, que pode se classificar até como crime. Algo hediondo, humilhante para os envolvidos, devastador para suas relações pessoais, familiares e profissionais. Nesse sentido, cortar o mal pela raiz e segurar a disseminação de algo tão torpe me parece absolutamente correto.

Mas...por outro lado, não seria também um tipo de manipulação da informação? Ou de censura, pura e simples? Ou mesmo de hipocrisia ou falsa moral?

Sim, porque os fatos aconteceram; muita gente viu e ainda está vendo pela internet. É notícia, gostemos ou não.

Sendo assim, seria correto não divulgar nada em grande escala, até para prevenir outras possíveis vítimas da tal "Felina", ou mesmo de outros oportunistas que certamente existem por aí? Quem sabe não estimularia um debate produtivo sobre os rumos que a internet vem tomando em nossas vidas e como nos comportarmos e educarmos nossos filhos diante dos novos tempos?

Fico pensando se essa cortina de fumaça não tem como objetivo maior proteger peixes mais graúdos. Segundo pude apurar, a "moça" vem gravando imagens há mais de ano; vai saber quem mais ela registrou? E se tiver imagens de políticos, grandes empresários, juízes e o escambau? Onde iria parar esse "tsunami"?

Outra pergunta: quem está no comando desse abafamento? Como se consegue calar tanta gente?

Um tanto assustador, não?

Sinceramente, não sei bem o que pensar. Por isso mesmo vou parando por aqui. Não divulgarei o endereço do blog; quem quiser pode achar sem muito esforço nos sites de busca.

Agora, nada me convence de que esse silêncio não tem como durar muito tempo. É como um dique prestes a estourar.

Aguardemos.