13 dezembro 2009

Rapsódia joseense

Ontem fui tomar umas num boteco de MPB chamado Rapsódia. Fora do circuito baladeiro Vila Ema-São Dimas-Esplanada, fica em Santana, bairro afastado do centro - como seu homônimo paulistano.

Gostei. De esquina, pequeno, com mais gente fora do que dentro, lembrou um pouco os barzinhos com música ao vivo das décadas de 1970/1980: rústicos e descontraídos.

Público, eclético. Sem nariz empinado nem roupas da moda, povo tranquilo. Preços, honestos. Músicos, razoáveis - que não se incomodavam com o falatório e mandavam seus "covers" numa boa.

Logo ao chegar, nem tinha sentado e ouço: "Zé Luiz!!!"

Veio um cara magrelo na minha direção: "Você por aqui em São José? Pô, não acredito!!".

Demorei um pouco a me lembrar. Tratava-se de um músico chamado Marco Aguiar, que, no meio do ano, apresentou-se no Villaggio Café com trabalho próprio.

Simpático, derramou-se em elogios. Agradeceu a oportunidade, disse que foi superimportante tocar lá, que fez parte dessa história - e por aí seguiu. Falou muito da maneira respeitosa como foi recebido e tratado, lembrou do Barbosa, das minhas palavras de incentivo.

Meio sem graça, absorvi tudo aquilo e fiquei refletindo. Era apenas uma das centenas de lembranças de artistas iniciantes que tiveram a chance de pisar num palco reconhecido pelo meio musical, na maior metrópole da América Latina.

A grande maioria, claro, não conseguiu chegar lá; ser famoso, essas coisas. Mas muitos estão hoje brilhando por aí.

Eu, que de certo modo venho me desligando totalmente dessa fase da vida, acabei por rebobinar um pouco a fita - e não doeu nada. Sensação de dever cumprido, ao lado de uma certa preocupação por temer que essa "missão" não seja assumida por mais ninguém - pelo menos nos moldes nos quais nos propusemos.

Pra onde vai esse povo agora? Qual vai ser a casa que se prestará ao papel de ser "a primeira porta em SP" para novos músicos? Qual vai acolher o "Zezinho da Paraíba", o "Joãozinho do Rio Grande do Sul", agendando a todos - indistintamente, com shows de segunda a sábado, muitos com casa vazia ?

Não vejo nenhuma com esse perfil. Até existem alguns espaços para trabalhos alternativos, mas todos privilegiam gente já um pouco mais rodada, até mesmo nomes consagrados que - sem opção - os procuram para tentar voltar à cena. Coisa que a gente também fazia, mas abraçando sempre os novatos.

Enfim, resta esperar pra ver. De longe.

2 comentários:

Sandrovisks disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sandrovisks disse...

Boa tarde!
Já dizia Nelson Sargento: "Nasci sem saber nada, e vou morrer sem saber tudo", foi um choque quando comentei que iria conhecer o Villágio da Teodoro e me atualizaram dizendo que havia Fechado. Me perguntei: Ai caramba eo Zé luiz? Não acreditei a princípio, mas infelizmente a fonte era segura. Poxa logo agora que ia levar minha princesa pra conhecer a casa de temática impar na cidade e o cara que não andava de ônibus a mais de 20 anos! rs (nunca vou esquecer isso).
Uma pena, fiquei realmente triste.
Quanto ao seu post vou te contar um ocorrido:
Umas semanas atrás fui ao Bar da filha do Nelson Gonçalves, O Bar do Boêmio(caraca olha esta chamada), no circuito de Sampa imaginei ser o único lugar que poderia ouvir uma boa música, aquele samba canção, um bolero, valsa... Doce ilusão! As vezes me revolto por ter nascido nos anos 80, Não sei se posso sentir saudades de uma época que não vivi, mas penso que sinto! O brasileiro é o cúmulo do diverso, da criatividade, mas infelizmente uma andorinha só não faz verão, é como em um relacionamento, só amar é muito pouco, só talento é bem pouco também!
Obrigado Zé (embora não se lembre de mim) passar uma noite com Aldir na sua casa foi certamente minha melhor noite boêmia! Foi um prazer indescritível, muito obrigado!
Alessandro Brito.