27 dezembro 2006

E o CD, hein?

A gente ouve falar, lê matérias, mas quando se vê diante da realidade acaba ficando chocado.

Há muito tempo não entrava numa loja para comprar CDs. Não digo uma FNAC da vida, que é uma megastore e sempre tem gente. Estou me referindo àquelas lojas normais, que no máximo vendem também alguns instrumentos musicais, um ou outro aparelho de som, mas que nasceram como lojas de discos.

Ná vespera de Natal, rodei minha pequena cidade à cata de um disco para dar de amigo secreto (não consegui escapar...). Pelo que me lembrava, haviam duas delas: a Souvenir Discos, razoavelmente grande e bem no coração do centro, e a Discomania, mais tradicional, porém numa rua menos nobre.

A primeira, para meu espanto, estava de portas fechadas. Não sei se efetivamente faliu, mas pra estar fechada na vespéra de Natal...

A segunda tinha alguns gatos pingados, bem diferente do restante do comércio, bem movimentado. Nas prateleiras de CDs, apenas uma pessoa além de mim. Comprou um e se mandou.

Fiquei fuçando e acabei dando sorte: no desespero, a dona estava liqüidando discos relativamente antigos a - pasmem - R$ 8,50. Não, não eram aquelas compilações baratas, porcarias que as próprias gravadoras majors criaram e que acabaram por desvalorizar seus catálogos. Estou me referindo a discos antológicos, ou pelo menos muito bons, como um da Rosa Passos que eu ainda não tinha (Morada do Samba), Bethânia da década de 80 (Mel), Johnny Alf e convidados (lição de casa), o último da Zélia Duncan e o solo da Paula Toller - onde elas cantam MPB, os dois ótimos - e o raríssimo "Amoroso", obra-prima de João Gilberto com aqueles arranjos magníficos do Claus Ogerman. Achei também um daqueles "cabeça de bacalhau" (você sabe que existe, mas nunca viu), um tributo ao legendário Cassiano, com participações de Marisa Monte, Djavan, Ed Motta e outros - que procurava há tempos! Tudo a R$ 8,50!!

Não há dúvidas de que CD virou peça de museu. Mesmo no amigo secreto, onde foi o item mais presenteado, ficou claro que era apenas por conveniência. Na cara de cada um que recebia, transparecia uma certa decepção. Acho que prefeririam ganhar um perfuminho, ou mesmo uma camiseta Hering.

Só deverá vender nesta época, mesmo. Quer dizer, se alguma loja ainda continuar aberta nos próximos anos.

3 comentários:

Anônimo disse...

...pena que nossos pequenos não terão a sensação de sair de uma loja de discos com um álbum de vinil tinindo de novo na mão. Aquele brilho e cheiro de novo da capa, aqueles encartes de luxo, aquela 1ª audição, aquela curiosidade de conhecer o lado "B", aquela eletrostática (era isso mesmo?) que eriçava os pêlos do braço ao chegar perto do bolachão... Putz, mal enterramos o vinil e já nos deparamos com o réquiem do CD? Saudades dos álbuns conceituais, dos álbuns duplos, das capas artísticas, polêmicas e enigmáticas, em alto relevo, dos encartes com as letras em tamanho legível, de saber quem são os autores das músicas, das fichas técnicas, de entender que a sonoridade de um álbum saiu daquele jeito porque tinha o "dedo" de um Nelson Ângelo da vida, de compreender que eu gosto mais de uma versão gravada pelo João Bosco porque nela o baixista era o Nico Assumpção... agora que eu estava quase me acostumando com aquelas caixinhas que vivem quebrando e com aqueles encaixes que nunca seguram o CD que muitas vezes vai ao chão, já preciso me preparar para downloads, MP3, MP4, IPods, taxas de compressão... e nada de encartes, capas, conceitos, atitudes, ideologias. Ainda bem que João Gilberto surgiu antes disso tudo. Não há espaço para um novo "Amoroso" hoje... Quanto mais caminhamos para a "aldeia global" mais as obras de qualidade vão se restringindo a pequenos nichos, porque o ritmo da arte é outro. Tive o privilégio de ter acumulado ao longo dos anos uma boa memória musical, que me permite saber o que buscar por aí. Vida longa aos sebos! Daqui a um tempo nem vai dar mais para se falar em "discografia básica", não?
Um abraço saudosista.

Anônimo disse...

A gente ouve falar, lê matérias, mas quando se vê diante da realidade acaba ficando chocado.

Há muito tempo não entrava numa loja para comprar CDs. Não digo uma FNAC da vida, que é uma megastore e sempre tem gente. Estou me referindo àquelas lojas normais, que no máximo vendem também alguns instrumentos musicais, um ou outro aparelho de som, mas que nasceram como lojas de discos.

Ná vespera de Natal, rodei minha pequena cidade à cata de um disco para dar de amigo secreto (não consegui escapar...). Pelo que me lembrava, haviam duas delas: a Souvenir Discos, razoavelmente grande e bem no coração do centro, e a Discomania, mais tradicional, porém numa rua menos nobre.

A primeira, para meu espanto, estava de portas fechadas. Não sei se efetivamente faliu, mas pra estar fechada na vespéra de Natal...

A segunda tinha alguns gatos pingados, bem diferente do restante do comércio, bem movimentado. Nas prateleiras de CDs, apenas uma pessoa além de mim. Comprou um e se mandou.

Fiquei fuçando e acabei dando sorte: no desespero, a dona estava liqüidando discos relativamente antigos a - pasmem - R$ 8,50. Não, não eram aquelas compilações baratas, porcarias que as próprias gravadoras majors criaram e que acabaram por desvalorizar seus catálogos. Estou me referindo a discos antológicos, ou pelo menos muito bons, como um da Rosa Passos que eu ainda não tinha (Morada do Samba), Bethânia da década de 80 (Mel), Johnny Alf e convidados (lição de casa), o último da Zélia Duncan e o solo da Paula Toller - onde elas cantam MPB, os dois ótimos - e o raríssimo "Amoroso", obra-prima de João Gilberto com aqueles arranjos magníficos do Claus Ogerman. Achei também um daqueles "cabeça de bacalhau" (você sabe que existe, mas nunca viu), um tributo ao legendário Cassiano, com participações de Marisa Monte, Djavan, Ed Motta e outros - que procurava há tempos! Tudo a R$ 8,50!!

Não há dúvidas de que CD virou

Zé Luiz Soares disse...

Como diz o Paulinho da Viola, "meu tempo é hoje...".

Mas, que tempinho bosta este, não?

abs