Subi ontem à tardinha, tipo seis, seis e meia. Deu certo: estrada cheia, porém andando, sem grandes engarrafamentos.
Mas, diante do que vi por lá, imagino o que sofreu quem retornou mais cedo, ou na terça. Era gente, gente e mais gente.
Há alguns (poucos) anos o Litoral Norte do Estado de São Paulo - aí compreendidos Ubatuba, Caraguatatuba, Ilhabela e São Sebastião - vem passando por um "boom" turístico. Pra ser mais exato, uma verdadeira invasão, que começou silenciosa e hoje faz muito barulho; entope as estradas, lota os mercados e ocupa todos os espaços nas praias.
Ninguém fez ainda uma pesquisa a respeito, mas todo mundo nota que algo mudou. "Nosso" litoral está chegando ao seu limite.
Para se ter uma idéia, o prefeito de Ilhabela já prepara projeto de lei limitando o número de veículos que poderão entrar lá. Simplesmente não dá pra suportar a triplicação da população como num passe de mágica.
Não são apenas turistas. Há anos o crescimento da população gira entre 5 e 7%, um dos maiores do país, o que levou o prefeito de São Sebastião a "congelar" determinados núcleos habitacionais. Ou seja: nesses locais é absolutamente proibido construir, sob pena de demolição imediata. Parece brutal, mas era isso ou a favelização da Serra do Mar, um dos últimos redutos verdes do litoral brasileiro.
Pra piorar, o descaso dos últimos governos e da Sabesp com o saneamento básico deixou o frágil ecossistema despreparado para essa explosão demográfica e hoje em dia está difícil ir a alguma praia sem dar de cara com aquela temida bandeira vermelha da Cetesb.
Eu, nascido e criado lá, venho tentando observar e entender esse fenômeno. Seria devido ao asfaltamento da Rio-Santos? Ora, mas isso já tem mais de 20 anos, e os resultados mais dramáticos foram na Costa Sul de São Sebastião, com a transformação de recantos bucólicos como Maresias e Juqueí em verdadeiros infernos de badalação, exploração financeira, guerras políticas, agressões ao meio-ambiente e, claro, violência. Tudo emoldurado pela beleza do mar e da mata atlântica... que lindo.
Esta nova invasão é diferente. Nada daqueles paulistas de sempre, de bolsos cheios, casarão à beira-mar, a conhecida arrogância, falando "geeiinte" e "oiteeeinnta" - e brancos como velas.
O que se vê hoje é um povo mais com cara de povo. De Brasil.
Mas nada dos temidos "farofeiros": aqueles de Brasília amarela velha, senhoras de maiôs pretos dando berros com a molecada jogando bola, sanduíches, tubaína e cachaça na sacola. Longe disso.
Seus carros não são importados, são aqueles mesmo que a gente tem: um Palio com dez anos de uso, um Gol bolinha 2000, um Corsa 99, um Celta 2002. Ninguém traz cesta de comida: fazem questão de puxar a carteira e pagar R$ 2,50 na latinha - sem chiar. Barracas? Nada disso: um hotel simples ali, uma pousada acolá - ou casa de parentes.
Muitos, certamente, migrantes do bom e velho Litoral Sul, que se cansaram de São Vicente, Mongaguá, Itanhaém e Praia Grande e resolveram buscar outras paragens - ainda que com o dobro da distância e preços mais altos. Aliás, uma pequena parcela desse povão já lotaria o estreito Litoral Norte.
"Gente normal", como algum metido a besta gostaria de classificar: pequenos empresários, comerciantes, bancários, "novos-meio-ricos", autônomos de todo o tipo. Que finalmente está vendo sobrar um dinheirinho prum lazer, digamos assim, mais sofisticado.
Essa talvez seja a maior transformação que a política econômica do governo Lula vem provocando: uma folga no bolso do povão. Que, não tenham dúvidas, gosta muito de se divertir quando tem algum.
Até quando isso vai durar, não sei. Mas, sem querer discriminar, alguma coisa terá que ser feita. Do jeito que vai, não será bom pra ninguém; me lembra aqueles shows que lotam demais no Villaggio: todo mundo apertado, calor aumentando, garçom sem conseguir atender, chope esquentando, não dá pra ir ao banheiro... Ou seja, parece bom, mas acaba não sendo.
No Litoral Norte, como no Villaggio, alguém - em breve - vai ter que colocar a antipática placa: 'LOTAÇÃO ESGOTADA".
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