No carro em que voltei ontem do litoral não tinha toca-CDs, só rádio. Como viajava sozinho, arrisquei sintonizar as FMs do pedaço, tentando abreviar as pouco mais de duas horas de viagem.
Claro, não tinha esperança de ouvir música boa o tempo todo, mas - quem sabe? - houvesse alguma emissora com uma certa independência, com algum programador de bom gosto, entre São Sebastião e Guarulhos - passando por Caraguatatuba, Paraibuna, São José dos Campos, Jacareí, Santa Isabel, Guararema e Arujá. Quem sabe...?
Ora, quanta ingenuidade. Sem chance, meus amigos: procurei entre dezenas; meu dedo não saía da busca automática, mas, como se houvesse um grande pacto a favor da porcaria, todas elas eram muito, muito ruins. Seja com sertanejos, evangélicas, forró estilizado (aquele só com teclados e letras de duplo sentido), pagodão, o que fosse - só ouvi música de baixíssima qualidade. Pior que tudo isso só mesmo o pop rasteiro, disfarçado de moderno, representado por tragédias como Jota Quest, CPM 22 ou Ana Carolina. Isso hoje é considerado de bom gosto...Desta última, consegui gravar na memória um trecho da letra, uma pérola, que dizia assim: "eu subo de escada para elevar a dor"... Sem comentários.
Vejam bem, estamos falando da região Sudeste: São Paulo, litoral e vizinhanças da Capital. Tremo, só de pensar como é no interiorzão do estado - e do Brasil.
Nossa música acabou. Já era. Não tem mais volta. Os cérebros de gerações inteiras já estão atrofiados. Não é à toa que fazem sucesso os BBBs da vida, e - muito pior - a violência chegou aos níveis atuais.
Música é cultura; e música ruim é a escuridão.
O que nós, profissionais da música dita "de qualidade" fazemos aqui - e é nesse momento que vejo que não dá pra morar fora da paulicéia mesmo, pois só na Marginal é que consegui respirar, com as USPs FMs, Scalas e Novas, e olha que essas ainda nem são essa maravilha toda - é proporcionar cultura e arte para uma minoria - esta cada vez menor; uma "elite auditiva" que certamente não irá durar mais que duas gerações, talvez um pouco mais.
Lutar contra esse inimigo é tarefa inglória, já que os grandes grupos de comunicação, as grandes corporações e os políticos dominam as rádios e TVs. E aí, só toca o que eles querem e lhes é vantajoso de alguma maneira, geralmente nivelado por - muito - baixo.
A coisa por aí tá braba, gente. O Brasil musical que rola nas ondas do rádio (e da TV) hoje é um lixo. E as exceções, sozinhas, não vão conseguir ganhar essa guerra.
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Um comentário:
Pois é... a jequice impera Brasil afora.
Só me pergunto como ficam nossos grandes artistas com as suas inspirações e material para trabalhar. O que fazer com a sua verve? Certamente continuam tendo o que falar e produzir, mas não encontram mercado. Muita coisa boa pode (e deve) estar sendo criada por aí, mas nós, confinados a guetos, ficamos sem acesso a isso. Quantos projetos que não saem do papel (quando chegam até ele...).
Precisamos de um mecenas para nos redimir.
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