07 agosto 2007

Na fila do Itaú

Acabo de ler no UOL que o Itaú teve lucro - recorde - de 4,16 bilhões de reais no semestre.

Por coincidência, ontem precisei pegar fila numa de suas agências pra pagar contas, na Rua Duque de Caxias, centro da cidade - ao lado da loja onde deixei meu carro instalando um cabo pra ouvir MP3.

Cheguei por volta das 15h, um pouco mais. Olhei pra fila, imensa, e quase desisti. Mas, como a previsão da loja era de pelo menos uma hora, resolvi arriscar.

Passados quase trinta minutos, perto da hora de fechar a agência, contei o número de pessoas na mesma espera, antes e depois de mim: 51 infelizes, 52 comigo. Quantos caixas atendendo? Três. Descontando um destinado aos idosos, gestantes, etc., sobravam dois pobres coitados, encarando o caracol humano.

Reclamei pra gerente. Só dois caixas pra 52 pessoas? Em pleno dia 05? (que seja, 06 - dia de muita gente receber seu salário) Sua resposta: falta de pessoal. Mas, falta de pessoal, com esse lucro todo que os bancos estão tendo? Sentindo que poderia virar bate-boca, não respondeu; virou-me as costas e foi pra sua mesa.

Não fui atrás. Nem me dei ao trabalho de evocar a tal lei municipal que determina que a gente só pode ficar 15 minutos na fila dos bancos. Não ia adiantar, e só aumentaria o meu estresse.

Resignado, dei uma olhadela pro povão. Procurei identificar fisionomias raivosas, gente a ponto de explodir, mais ou menos como esse pessoal do tal "Cansei". Em vão; ninguém bufava, ninguém sequer abria a boca. Todos calmos, esperando - tranqüilamente, fazer o quê? - sua vez.

Ninguém "cansado" - como os histéricos dos aeroportos.

Pensei: "ué, que povo é esse?". Nessa última pesquisa de popularidade do Lula, onde se encaixariam?

Será esse o tal do "homem cordial", descrito pelo Sérgio Buarque de Hollanda?

Um olhar mais atento: nada de gente loura, olhos azuis, boas roupas. 52 pessoas, e ninguém parecido com aqueles que estavam nas minguadas passeatas de "Fora Lula" que aconteceram em algumas capitais, nestes últimos dias.

Gente humilde, peles morenas, traços duros, roupas baratas. 100% povo brasileiro.

Gente acostumada a ser maltratada. Gerações inteiras.

Na fila do belíssimo Itaú, o banco moderno, que lucra bilhões; o banco dos comerciais de TV - de gente chique, alegre, bem-vestida (esse pessoal - os tais "cansados" - certamente tem atendimento VIP, não pega fila).

E ainda tem quem vaie um Presidente que se preocupa de verdade com essas pessoas: minhas companheiras de fila, ontem. No bilionário banco Itaú.

Mexer com um gigante desses, sem provocar graves terremotos? Taí um grande desafio.

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