11 julho 2008

Nelson Motta descobre a pólvora

O famoso jornalista, letrista (de Como Uma Onda...por exemplo), produtor, escritor e crítico musical Nelson Motta escreveu artigo, publicado hoje na Folha de São Paulo, sobre o que ele chama de "bananização da música", ou sua massificação e vulgarização.

Achei bem interessante, a ponto de reproduzi-lo ao final deste post.

Só queria deixar registrado que esse tema vem sendo por mim levantado nas rodas de discussão sobre os caminhos da música, há pelo menos uns três anos. Quem convive profissionalmente, ou mesmo pessoalmente comigo, sabe bem disso. Neste blog, inclusive, é possível achar alguns textos a respeito.

Em todos os papos, minhas afirmações, via de regra, foram recebidas com ceticismo, ou, no mínimo, certa reserva. Muito pelo fato de certos profissionais do meio resistirem - o que é natural - à idéia de que boa parte do seu mercado de trabalho simplesmente caminha para o inexorável fim.

Saí da Lua Music em agosto de 2006. Em fevereiro daquele ano, ao retornar de uma feira musical em Recife, finalizei meu relatório dando um prazo para o fim do CD que foi considerado extremamente exagerado por todos: "não passa de dois anos", afirmei - contra aqueles que diziam que o disco digital ainda teria pelo menos uns cinco anos de sobrevida.

Taí, ninguém compra mais disco hoje em dia.

Essa "constatação" do Nelson Motta apenas registra, num grande veículo, aquilo que muita gente já pressentia ou tinha certeza, mas não queria acreditar, muito menos afirmar: não há ouvido para tanta música. É simples.

Nessas conversas (que muitos ainda acham chatas ou rancorosas) costumo fazer uma comparação entre música e diamantes: são criações belíssimas e têm alta procura, até o dia em que estiverem sobrando. Assim como a música tinha valor na época do vinil e hoje jorra praticamente de graça das torneiras da Internet, se um dia diamantes começarem a brotar do chão aos milhares, rapidinho virarão lixo a ser varrido.

É isso. Vamos ao artigo:

NELSON MOTTA
A bananização da música

RIO DE JANEIRO - No fim do século 20, David Bowie previu que, no futuro, o comércio de música pela internet estaria nos computadores como a energia elétrica, o gás, o telefone e a TV paga estão nas casas e escritórios. O cliente teria uma assinatura e pagaria de acordo com o seu consumo. A música seria uma commodity, vendida a preço de banana. Tantos watts de eletricidade, tantos canais de TV, tantos quilos? litros? metros? bites? de música.

Hoje, além de um modelo de negócio em pleno florescimento em países onde prevalece a cultura de pagar pelo que se consome, a comercialização massificada e globalizada de música, legal e pirata, acabou com o que restava das antigas ilusões de importância, transcendência e glamour da música pop, que a indústria do disco desenvolveu -e sugou- à exaustão. A vulgaridade se tornou um valor indispensável ao sucesso de massa. Os investimentos em promoção se tornaram muito maiores do que em criação e produção. Os melhores selos e gravadoras, criados por músicos, produtores e editores, terminaram em gigantescos conglomerados, dominados por advogados, financistas e marqueteiros.

A música, a melhor e a pior, se tornou irreversivelmente banal, como uma banana. O lado B, de bom, da bananização da música gravada, é a maior valorização da música ao vivo, quando se cria entre o artista e o público uma relação pessoal e intransferível, muito além do contato virtual e digital.Há muitos anos, Caetano Veloso falava sobre fazer, ou não, músicas novas, e dizia que já havia música demais em toda parte. Imagine agora. Chico Buarque dizia detestar música ambiente porque, se é boa, distrai e atrapalha a conversa, e se é ruim, então para que tocar?

Mas, afinal, para que serve a música?

3 comentários:

Tatiana disse...

Zé, essa é uma questão muito importante.
E eu nunca tinha pensado sobre esta questão de ter "música demais" por aí, mas é a mais pura verdade.
Hoje meus três cd's estão disponibilizados na web - não por mim - e eu acho que é um caminho irreversível.
Aí sobra a possibilidade de apresentar as canções novas e vender cd em show. Outro grande problema porque não existe um público assim tão amplo disposto a consumir música nova e falta ainda mais espaço para se mostrar um novo som.
Não sei como é que isso vai se resolver. A única coisa que sei é que novas canções precisam ser feitas e serão feitas, independente de existir público consumidor ou não. É a necessidade do compositor, compor.
Como esse compositor vai viver, aí são outros quinhentos!
Mas tudo está sempre em constante movimento, mudando o tempo todo. Novas soluções serão criadas, novas formas de viver de música, novas formas de vender música.
A questão é ficar atento às novas tendências e tentar se adaptar a elas.
Achei seu texto uma pérola.
Parabéns.

Zé Luiz Soares disse...

Puxa vida, Tati. Um elogio desses vindo de você, cujo blog leio diariamente, me deixa pra lá de lisonjeado. Muito obrigado.

Falando nisso, demorou mas tomei vergonha e coloquei o link dele aqui na Lente.

beijão.

Tatiana disse...

Meu querido,
Pois saiba que depois que eu botei uma lista de blogs que indica quem publicou comnetário ( adorei esse negócio), venho sempre que você escreve. Leio tudo!