De pijama

Li esta semana na Folha uma matéria que tem grande significado pra quem, como nós donos de bares e casas de shows, tem se ressentido, nos últimos anos, da queda paulatina de público.

A pesquisa "OD (Origem/Destino)", do Metrô constata que "o morador se desloca menos para atividades de lazer. De 1997 a 2007, o número de viagens para lazer na Grande São Paulo caiu 28,03%. Todos os outros motivos (trabalho, educação, saúde) tiveram aumento. Diz ainda "que há um fenômeno em curso em todo o mundo: as pessoas deixam de freqüentar atividades culturais externas para ter lazer dentro de casa, com filmes, música etc. ". Outra causa seria o caos no trânsito, que não tem mais hora do "rush": em certas avenidas da metrópole, tem congestionamento até depois da meia-noite.

Eu, que estou nessa há pelo menos 18 anos, tendo a concordar. Mas acredito que as razões sejam várias. Claro que a internet banda larga em casa, os videogames, os DVDs, as TVs a cabo com centenas de canais e o aumento de aparelhos de alta definição pesam muito - e seguram o cidadão de pijama entre as quatro paredes do lar.

Mas não é só isso e o trânsito ruim.

Penso, modestamente, que o fenômeno seja mais complexo. Há realmente uma falta de interesse por atividades de lazer, mas sinto que é uma mudança de comportamento geral, em grande parte fruto da falta de políticas culturais e do baixo nível de educação que assolam nosso país - há décadas. Uma opção pela cultura de massa, disseminada pela mídia em geral - ávida por lucros imediatos - que, de certa forma, vem "emburrecendo" os jovens, os futuros potenciais adultos consumidores da dita "arte".

Na minha área, volta-e-meia tenho informações de shows espetaculares, praticamente vazios. E, a cada ano, isso piora.

Pra ajudar, ainda vêm do Estado regras cerceadoras, como as Leis Seca e Anti-Fumo.

E, claro, a violência urbana, hoje em níveis assustadores em certas cidades.

Aí, fica difícil mesmo. Eu mesmo só saio toda noite por causa do trabalho - e porque vou a pé. A Rô, por exemplo, outrora uma grande boêmia, hoje diz que "paga pra não sair de casa".

Só nos resta continuar tocando esse barco, até onde der.