Fiquei em São Sebastião de quinta à tarde até a manhã de ontem. Algumas nuvens esporádicas, uma pancada de água aqui e ali, mas o resto do tempo foi de céu limpo e muito, muito sol.
Com menos turistas na cidade, tudo fácil: a padaria na esquina, o mercado sempre com vagas; tias em casa o tempo todo ajudando a preparar - ou mesmo trazendo prontos - pratos saborosos. Churrasqueira e rede no esquema, ar-condicionado na suíte; jogo de buraco pra distrair, cervejinha à mão.
E aquela paisagem deslumbrante, da qual nunca cansei de falar - e mostrar - aqui neste blog. Falando sério: o Brasil é muito grande e cheio de pequenos paraísos, mas juro que, pra bater minha cidade, é difícil, pois a geografia de lá é muito peculiar, com a imensa Ilha de São Sebastião (Ilhabela) logo em frente, a poucos quilômetros, fazendo o canal parecer um grande lago de águas plácidas onde se reflete o verde da Mata Atlântica. A natureza de São Sebastião tem algo de espetacular, até dói a vista. E a cidade é arrumadinha, tem belas praças, casas bonitas, um resto de casario colonial, ruas limpas. Os tanques da Petrobrás, bem na região central, ao contrário de enfear, acabaram por proteger as encostas dos morros, impedindo invasões imobiliárias. E aí fica aquela moldura verde bem na cara, tudo lindo demais. Quem mora lá - suspeito - não gosta de chamar a atenção. Olhei com cuidado estes dias e reparei em vários casos de gente que não quer mais nada na vida. Uma razoável fonte de renda, uma casa confortável, escola boa pros filhos e pronto: não precisa de mais nada. Não quer disputar carreira, não tem grandes ambições, não precisa de badalação, lobbies, enfim: não quer saber de correr atrás do sucesso. Muitos fugiram das grandes cidades e montaram suas pequenas empresas, e lá permanecem, felizes.
Quando vim pra São Paulo, em 1985, a coisa ainda era meio precária, como de resto em todas as pequenas cidades brasileiras. Pra comprar um LP tinha que encomendar, TV era na base da antena espinha-de-peixe, escola particular só tinha na vizinha Caraguá. Mas, com as novidades tecnológicas e alguns investimentos particulares e públicos, a coisa tá virando meio covardia.
Que tal morar defronte ao mar, ao sopé de montanhas recobertas de árvores, com a brisa marinha entrando pelas suas narinas, andando com seu carro sem trânsito e tendo o mundo às suas mãos através da internet banda larga? Ou assistir aos melhores canais por assinatura numa TV de LCD depois de dar uma bela caminhada na orla e traçar um peixe que acabou de ser retirado da canoa? Ou se programar para o fim-de-semana percorrendo trilhas em meio à floresta tropical, parando para se banhar em cachoeiras quase virgens, ou mesmo gastando um troco num passeio de escuna até o lado de trás da Ilha?
Bares e restaurantes se quintuplicaram, escolas boas são várias - até Fatec tem. São Paulo está à duas horas e meia e, bem pertinho (uns 30 km), estão as badaladas Maresias e Boiçucanga, pra quem procura animação. Sem falar da charmosa Ilhabela a menos de 15 minutos de balsa.
De manhã, você abre a janela e o sol invade, céu azulzinho... Hoje aqui na Capital...tudo nublado, prédios horrorosos à volta, carros e mais carros. Comida no quilo, estranhos na rua e trânsito voltando a ficar caótico. E tudo caro - muito caro. Claro que São Paulo tem seus prós, seu charme; cultura, arte, gastronomia, comércio, noite - e tudo aquilo que se busca numa grande metrópole. Mas, do alto dos meus 23 anos vivendo por aqui, posso afirmar que as coisas nunca estiveram tão difíceis e angustiantes. Isso aqui explodiu, tá inabitável: é gente, prédios e carros demais. É poluição e violência demais. São Paulo travou.
Aí lembrei-me de uma piada antiga da região, que talvez seja verídica, mas tem mais cara de lenda. O paulistano típico chegou num caiçara deitado na rede, que tinha acabado de comer seu peixe com farinha e disse: "Você não pode ficar nessa vida, tem que trabalhar, correr atrás da grana, ser mais ambicioso". "Pra quê?" respondeu o nativo. "Ora - rebateu o turista - pra ficar rico, comprar uma casa na praia e ficar descansando o resto da vida na rede, olhando pro mar!"
Pois é... já deu pra perceber que estou arrumando minhas malas de volta pra casa, né?
Um comentário:
*maior apoio... da paulistana que vive fora da capital há exatos vinte anos e, agora, também está no litoral (coincidência?!?) bjs.
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