Como amante do bom futebol e deixando de lado a rivalidade, assisti de camarote - no caso sofazão e cerveja - a estréia do Ronaldo pelo Corinthians, ontem.
Achei o desempenho do Fenômeno bem razoável, considerando o tempo parado. E, num misto de inveja e admiração, fiquei feliz pelo seu retorno - acreditem se quiserem. Creio que muita gente me acompanha nessa opinião: o cara é "o cara", gostem ou não.
De tudo o que se viu no jogo, o momento mais marcante - a meu ver - foi aquele em que o meia Douglas não quis passar a bola quando Ronaldo estava livre para fazer o gol que repercutiria no mundo todo. Foi "fominha"? Foi, claro, e por conta disso está sendo massacrado pela mídia esportiva e pelo povão hoje. Isso vai lhe custar muito caro, ficará marcado para sempre como egoísta, mesquinho e todos os adjetivos nessa linha.
Vou, no entanto, na contramão da turba.
Pra mim, sua atitude foi a mais corajosa que se poderia esperar de alguém que deveria ter como obrigação, na noite de ontem e pelo resto do ano, ser apenas mais um mero coadjuvante, um lambe-botas do (hoje) gorducho. Alguém que tremeria só de pensar em desagradar a todos e não servir o artilheiro-foco-de-todas-as-atenções. Mas que, ao fazê-lo- grande ironia - não ganharia nada com isso. O maior beneficiário seria aquele que já conquistou tudo: Ronaldo.
Douglas decidiu não participar desse enredo. Numa fração de segundo, mandou todo o circo às favas - aí incluída a Globo e seus patrocinadores. Foi contra o sistema - sim senhor.
As razões? Ora, ponham-se no lugar do "fominha": Douglas é um profissional da bola. Mais um entre milhares buscando um lugar ao sol. Bom jogador, há meses vem ralando no time; correndo, treinando, se concentrando, viajando, tentando ser pelo menos um centésimo do que Ronaldo é. E tudo que lê nesses mesmos últimos meses fala somente do milionário - e polêmico - centroavante que iria estrear ontem.
Naquele momento, entre passar a bola e levantar mais ainda a bola de Ronaldo, ou tentar fazer um golaço, optou por ser o que o ser humano é por natureza: egoísta. Era seu direito, ponto final, que venham as conseqüências.
Engasgada em sua garganta certamente estava a lembrança do cara na boate de madrugada com a mulherada, enquanto ele se recolhia ao quarto de hotel, e dos milhões de dólares que Ronaldo tem no banco. E pensado: "ah...não vou dar mais ponto pra esse cara, não. Quer fazer gol, corra como eu. Pô, passo essa bola, ele explode nas manchetes e eu continuo um ninguém. Vou aproveitar que o mundo inteiro tá olhando, tentar o gol e pronto."
Absolutamente compreensível, natural e - sem dúvida - humana, sua decisão.
E atire a primeira pedra quem nunca pensou em si mesmo antes de estender a mão para os outros.
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Um comentário:
Assisti o jogo também e confesso que na hora até eu, tricolor do Morumbi, xinguei o Douglas! Empolgação do momento... Mas agora, lendo seu post, ele parece ter tomado realmente a melhor decisão. E digo mais: na minha opinião, a melhor parte do jogo foi quando o Ronaldinho levou uma microfonada no olho direito.
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