18 maio 2009

Moacyr Luz e eu

Pra quem não sabe, o compositor carioca Moacyr Luz é hoje uma das maiores personalidades do samba no Brasil, ponto.

Sua trajetória musical vem de longe, desde canções gravadas por Maria Bethânia, Nana Caymmi e Leila Pinheiro, passando por sucessos em novelas da Globo até sambas hoje cantados nas principais rodas do país. A grande maioria fruto de uma profícua parceria com Aldir Blanc, que só perde para a inigualável deste com João Bosco.

Hoje estamos um tanto afastados, coisas da vida. Mas um post em seu recém-criado blog (clique aqui) despertou-me a vontade de falar sobre o que já fizemos juntos na música brasileira.

Não foi pouco, gente, mas acho que dá pra tentar resumir.

Em meados de 1997, confesso que conhecia praticamente nada do homem. Sabia que havia vencido o Festival de Avaré, talvez o mais importante do Brasil na época, mas - ignorante! - não o associava a sucessos como "Coração do Agreste", que bombou na novela Tieta com Fafá de Belém, ou "Mico Preto", abertura de outra com mesmo nome, na voz de Gilberto Gil. Parcerias com Aldir, claro.

Foi a Rô quem teve a idéia de convidá-lo para se apresentar no Villaggio, e aproveitamos para encaixá-lo numa entrevista com nossa parceira de então, Miriam Ramos, na rádio Musical FM. Julho daquele ano: à tarde, após a entrevista, tomamos nossa primeira cerveja juntos, que inauguraria uma série de pelo menos dez anos de botequins, shows, CDs e confidências.

Dali, a tabelinha não parou mais. Ele vinha pra SP e ficava em casa. Íamos pro RJ e ficávamos na sua, na Muda, onde nos deu a oportunidade e a honra de conhecer mitos que jamais esperaríamos ver de tão perto: Beth Carvalho, Nei Lopes e, prazer maior, Aldir Blanc - seu vizinho três andares acima. Como ele mesmo diz, foi no Villaggio Café que estreou no samba. E foi lá que me convidou para produzir o disco que mudou sua carreira: Mandingueiro. Seis meses depois, lá estava eu no RJ, conduzindo a parte executiva e dando meus primeiros passos pelas mumunhas da parte menos, digamos assim, turística da Cidade Maravilhosa.

Pela gravadora Dabliú coordenei também o relançamento dos CDs 1988 e Vitória da Ilusão - dois outros marcos na sua trajetória.

Andamos de copos dados por muitos redutos da malandragem carioca: da Pedra do Sal ao Clube Renascença, no Andaraí; do Bar da Maria, na Muda, ao Bar do Costa, em Vila Isabel; do Carlitos, na Cinelândia, ao Bip Bip, em Copacabana.

Devo muito ao Moa. Foi ele quem me deu o conselho, numa madrugada fria no Sujinho: "Zé, se você quiser trabalhar com música, tem que abrir vários canais na sua cabeça". Assim o fiz.

Com seu aval, fui me aproximando de todo o mundo do samba: Beth Carvalho, Paulo César Pinheiro, Dona Ivone Lara, Walter Alfaiate e tantos que nem cabem aqui. E de figuras não tão ilustres, mas não menos importantes, como o filósofo Baiano, Xanduca, Sérgio Touro, Paulão 7 Cordas, os jornalistas Luis Pimentel, Hugo Suckmann e Janjão.

Juntos (mais a Rozana, e, claro, a Ize Sans), em 1999 desbravamos a praia do paulistano e recente Bar Pirajá, com seus donos iluminados, para construir a história do projeto Esquina Carioca, marco da retomada do samba até o auge em que se encontra hoje. Que ainda rendeu (mérito maior da Rozana, que insistiu na gravação do show, brigando pela verba até o último minuto) um CD tão raro em conteúdo e classe que é disputado até hoje, bastando dizer que ali tem a última gravação do inesquecível João Nogueira.

E desbravamos muitos outros balcões e mesas: Giba, Original, Astor, Elídio, Vou Vivendo, Genésio, Ó do Borogodó - em SP; Serafim, Siri, Petisco da Vila, Amendoeira, Alcazar, Paladino, Bar Luís, Bar Brasil, Lamas, Capela - no RJ. Nossos triglicérides agradecem...

Em 2000, quando fui montar a gravadora Lua Music, apressei-me em convidá-lo para produzirmos juntos CDs que amalgamaram essa nova trajetória do nosso mais importante gênero: Casquinha da Portela, Guilherme de Brito e Macalé cantando Moreira da Silva. Foram diversas páginas inteiras nos maiores jornais brasileiros, sucesso total.

O que deu fôlego pra gente fazer mais coisas fundamentais, como seus próprios discos - Na Galeria e Samba da Cidade - obrigatórios em qualquer antologia do samba contemporâneo; mais seu Guilherme, desta vez com o Trio Madeira Brasil, uma verdadeira pérola; outro Macalé: Amor, Ordem & Progresso, eleito pela crítica um daqueles "disco do ano"; Samba do Trabalhador, também em DVD, criação do Moa e hoje programa obrigatório nas segundas cariocas; e, finalmente, Vida Noturna, do parceiro Aldir, disco que me fez sentir com a "missão cumprida" no mercado fonográfico: histórico e perfeito, obra prima de todos nós.Shows, além de tantos no Villaggio e de dois Esquinas (no terceiro fui apenas espectador "vip"), foram muitos: Sescs, teatro de São Sebastião, Rival (co-produção da gravadora) e por aí afora.

Quando inaugurei o quintal do meu atual sobrado, em 2005, o Moa fez questão de cuidar dos petiscos. Fomos ao Mercadão, ele escolheu tudo e - pilotando meu fogão - preparou uma série de quitutes da "baixa gastronomia" (sua especialidade, que já rendeu até livro de sucesso), servindo um a um os convidados, dentre eles o também saudoso Luiz Carlos da Vila.Não temos nos visto tanto quanto deveríamos, mas nossa ligação pessoal e profissional está acima de qualquer distância. As histórias estão entrelaçadas para sempre.

Repetindo uma de suas frases preferidas : "Fizemos nossa parte, com louvor".

Vida longa, Moa!

5 comentários:

Anônimo disse...

zé,
tu esqueceu o dia que te levei no museu da república, antigo palacio do 'planalto' no brasil, pra assistir uma roda de partido alto e vc jogou fora o cigarro numa....lixeira de plástico!!!
quase o catete inteira vira cinzas..rs..
bj e obrigado sempre pelo carinho...
moa

Dafne Sampaio disse...

hahahahahaha.
não podia ter esquecido essa, zé.
colocar fogo no catete não é pra qualquer um.
abração

Zé Luiz Soares disse...

Rapaz, a coisa foi feia!

Eu achei que o cigarro tava apagado e saí andando. Quando a gente viu, foi uma fumaceira danada, nêgo com extintor, o diabo.

Eu disfarcei, mas não teve jeito, o Moa olhou pra minha cara e disse: "foi tu, né Zé?..."

e saímos de fininho...

Alexandre Meneses disse...

Se São Paulo é a locomotiva do país Zé Luiz e Rozana são a locomotiva da generosidade e simpatia daquela cidade . Ontem , eu Serjão e Baiano erguemos nossos chopps, lá no Getúlio,lembrando momentos de muita alegria que já desfrutamos com a dupla !! Bjão Zé e Rô !!!!!! Xanduca

Zé Luiz Soares disse...

Grande Xanduca, irmão de fé!

Ê tempo bom...

abração do Zé, saudade.