Escrevo antes do clássico contra o Corinthians, decisivo para a pretensão palmeirense de voltar a ser campeão brasileiro após 15 anos.
Não vou falar da campanha verde; da liderança por 18 rodadas; da queda de rendimento. Nem do jogo ressuscitador em que goleou - de forma espetacular, diga-se - o Goiás, quinta passada.
O que quero deixar registrado é que, nessa última partida, aconteceu um fato absolutamente inédito da história do futebol brasileiro: imediatamente após o apito final, 18.000 palmeirenses na arquibancada do estádio Palestra Itália, ao invés de começarem a retirada para suas casas, fincaram o pé - e entoaram, em uníssono, um estrondoso coro:
Planejada ou espontânea, o fato é que a coisa tomou dimensões gigantescas: é justo nesse momento que os repórteres adentram o campo para entrevistar os jogadores e os narradores estão ali, nas cabines, quietos. Microfones abertos, não há hora melhor para um grito ecoar, forte, direto nos ouvidos de milhões de espectadores.
Foi um constrangimento geral para todos os profissionais das emissoras de rádio, TV e rede de computadores. Eu ouvia pela internet e fiquei de queixo caído. O que era aquilo, gente?
Certamente um desabafo, um grito de revolta.
Mas, qual a razão dessa revolta?
Na verdade, foi a chamada "gota d´agua". Quem é palmeirense e acompanha há anos a imprensa esportiva tá calejado de saber que, assim como mais alguns times de colônia (o Vasco, no RJ, por exemplo), a imensa maioria da mídia, por motivos passionais ou financeiros mesmo, trata o clube de maneira inferior em relação aos demais grandes - em especial Flamengo, Corinthians e São Paulo, os primeiros pelo tamanho da torcida e o último pelas conquistas recentes -, além de vários outros tipos de manobras de bastidores.
Ao final deste post deixo um texto colhido no blog Cruz de Savóia (clique aqui), com os devidos créditos, que explica melhor essa atitude dos ditos "jornalistas".
Explicações à parte, o grito dos palestrinos nesta semana passou a ser um divisor de águas. Jamais o chamado "quarto poder" - pelo menos na área futebolística - foi desafiado assim. E o que é pior, sem ter como revidar, pois como responder a 18.000 pessoas, sem alvos específicos? E, mais: se eram milhares ali, certamente serão milhões em suas casas, que foram despertados para o tema e - alguém duvida? - irão assimilar o mesmo ponto de vista. Uma grande massa de consumidores alviverdes que ficará, a partir de agora, alerta ao que vê e ouve nos rádios, sites e TVs, fazendo valer seu direito de questionamento e reprovação.
Os caras que comandam a informação ficaram tão atônitos que o assunto foi prudentemente ignorado pelos veículos nos dias que se seguiram. Lógico: só um maluco iria se auto expor dessa maneira. Mas - não poderá ser diferente - com certeza sentiram o baque e devem estar revendo posturas, se não quiserem perder audiência.
Presumo que o que possa vir pela frente é a diminuição das matérias depreciativas ou tendenciosas; das fofocas que desestabilizam o time. E o aumento dos espaços dedicados ao Palmeiras e sua torcida.
Isso se prevalecer a lógica capitalista. Como no futebol a paixão por muitas vezes supera a razão, é possível que o ressentimento ainda prevaleça em algum jornal ou canal de TV e a discriminação continue, ainda que uma guerra dessas proporções não interesse a ninguém.
O que se tira de melhor disso é que, assim como vem ocorrendo nos ataques inúteis ao governo Lula desde a campanha eleitoral, a grande imprensa a cada dia perde mais força. O povo nunca foi bobo, agora menos ainda com o mouse à mão. A internet, paulatinamente, vem tirando da mídia clássica o poder de ditar suas idiossincrasias. Basta acessar a grande rede e participar de dezenas de blogs de torcedores para ver o tamanho da encrenca.
É bom ficarem espertos, pois o recado já foi dado: "Ei, imprensa, vai tomar no c...!!".
Segue o bom texto de que falei:
Gota d’água
30/10/2009 por lulapalestra
“Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d’água…”
Insatisfações com a imprensa por parte das hostes palestrinas são históricas, como sabemos. Até tese de mestrado a coisa virou. Então contarei a história das minhas insatisfações com essa corja. A primeira vez em que ouvi uma queixa a respeito de algum jornal eu era muito criança ainda. Lembro-me de ouvir meu irmão, cinco anos mais velho, queixando-se duma charge de A Gazeta Esportiva, antes dum Choque-Rei, em que mostrava uma luta de sumô entre Cilinho e o finado Vicente Arenari, os treineiros das duas equipes. Ele não gostou de ver nosso treineiro – realmente mais magro que o do adversário – ser ilustrado como um fiapo de gente agarrado ao ventre imenso do tricolor. Coisa de criança. Anos depois o Anderson, amigo de infância e parceiro de vários jogos – in loco, na TV ou no radinho de pilha – veio até mim reclamar de outra charge do mesmo jornal: havia na época um boato de que contrataríamos Don Diego, que foi retratado vestido de noivo, ao lado duma noiva decrépita e com uma placa pendurada no pesçoco. Na placa estava escrito “PARMALAT”. Daí em diante eles foram ladeira abaixo, cada vez mais mostrando um apreço exagerado pelo Corinthians em detrimento dos outros. Acabaram falindo, com justiça, prova de que até a claque alvinegra, tida como mais numerosa que os chineses, também dera as costas ao péssimo jornalismo praticado pelo jornaleco.Mas o eixo SPFC-SCCP-CRF e seus torcedores não tardariam em criar um novo instrumento a fim de satisfazer seus caprichos mais doentios. Em meados dos anos noventa, surgia um novo diário na praça, com uma proposta inovadora: somente esportes por módicos R$ 0,75. Minha cachaça, não ficava um dia sem. Tão importante quanto o meu café da manhã, o Lance! matava minha sede de informação sobre esportes. Porém, meu caso de amor com o jornalzinho começou a ficar abalado quando as notas dos jogadores do Palmeiras começaram a ficar cada vez menores, apesar do ótimo momento do time, enquanto adversários mais fracos eram tratados com benevolência exagerada. Galeano jogou o fino improvisado na quarta-zaga e jamais levou nota acima de 6. Os jogadores do outro lado do muro, principalmente aqueles que serviam à Seleção, como Serginho – que fugiria do escrete canarinho depois – ganhavam carradas de dezes, noves e oitos. Atletas de qualidade questionável passaram a ser convocados e até disputaram Copas do Mundo, como o caso dos limitadíssimos Zé Carlos Galo – ele imitava o animal à perfeição, talvez tenha ido à França para acordar o grupo de manhã cedo – e Doriva, chamados pelo Velho Lobo. Só fui entender tudo isso anos mais tarde, ao ver Ilsinho ganhando Bola de Prata e ao ver o goleiro do Grêmio liderar a corrida pela Bola de Ouro à frente de Diego, o melhor jogador deste certame. O negócio é grana mesmo, é “Jabá”. Não era de se admirar que um time que contava com Marília Ruiz, Benjamin Back, Juca Kfouri, PVC e Marcelo Damato não passasse dum bando de gente que vai à lida sob ordens dos cáftens da tríade.Mas isso não era suficiente: os italianinhos daqui e os portugas do Rio precisavam ser tratados jocosamente, feitos de otários. Um dia, dei uma olhada na banca de jornal do outro lado da rua e o papel higiênico dizia: “PALMEIRAS CONTRATA RICARDINHO”. Apesar de já ser um ex-leitor, atravessei a rua a mil – sempre fui fã do futebol do traíra – para ver de perto. Em letras miúdas, abaixo da manchete: “Mas não é quem você está pensando.” – Agora temos de aguentar pegadinhas! – pensei alto. Até mesmo o escudo do Verdão foi reproduzido com uma tarja vermelha feito placa de sinalização numa capa daquela joça. Profanaram tudo e escancararam de vez: nosso negócio é com elas. Não temos interesse em vocês, que estão sumindo, são a nova Lusa…
Quando era muito, muito criança tomei um “rodo” dum moleque na rua sem mais nem porquê. Passei anos creditando o episódio à minha cara de bobo, mas, bem depois, ao ver o presidente de honra da maior uniformizada palestrina discorrer sobre as origens de sua torcida, descobri o motivo: eu vestia o manto sagrado naquele dia, como tantos pais de família que apanhavam e perdiam camisas nos estádios lá pelo início do anos 1980. Até mesmo cariocas vinham até aqui e aproveitavam-se de nossa apatia, acostumados que estávamos com o estigma de “trouxas”. Quando nós, os otários, começamos a nos defender dos bons e ilibados moços do Bom Retiro e do Jardim Leonor, a corja finalmente começou a se preocupar com a violência que ela própria cultivara por décadas. E não foi só o Lance!, não. Os programas televisivos são os que mais induzem o torcedor a fazer bobagem. Se você torce pelo clube “errado”, eles provocam, mentem, humilham. A noite de ontem foi histórica e eu participei, eu contribuí. Chegou o grande dia em que o palmeirense acordaria. EI, IMPRENSA, VAI TOMAR NO CU! Uma, dez, vinte, quarenta vezes, quatrocentas vozes, milhares de corações! Uma manifestação justa, oportuna e merecida. Paulo de Lilliput já minimizou, erroneamente, dizendo que foi só a Mancha. E o Juquinha, hein? Ele não gosta de democracia? Será que ele chamou o Doutor para ver? Nós estragamos o pós-jogo dos mensaleiros do rádio, sejam eles iniciantes ou velhos mineiros da cabeça grande criadores de gado despreocupados com a Mata Atlântica. Os palestrinos ouviram, riram e dormiram satisfeitos. Pais da bola, peitos de aço, carabinas, bacharéis e panteras sentenciaram do além: “Eles ainda são assim picaretas.” Mestre Filpo emenda: “Que la chupem. Pelas puntas!” A verdade é que a cuia finalmente transbordou após décadas e vocês chuparam. Chuparam e continuarão chupando, continuarão mamando. Engasguem e babem feito bois, como ordenou El Pibe, mano de D10s. Obedeçam, rameiras! Obedeçam já, da mesma forma que obedecem de joelhos aos Juvenais. Estamos no comando agora.Mais útil que um Molotov nos prelos; mais dolorosa que uma cabeçada de Serginho Chulapa ou um sopapo do Felipão ou do Picerni; tão inteligente quanto o feedback de Crespo nos cronistas rossoneri canalhas ou as peripécias de Eurico contra a Flapress. Vocês pediram nossa manifestação por anos e aí está ela. Queriam que abandonássemos o barco, que fôssemos embora olhando o chão, como criança após sonoro flato. Não foi assim, porque o jogo acabou e ninguém saiu, porque não queríamos apenas mais um show de futebol e um placar elástico. Não foi para isso que pagamos o ingresso mais caro do país. Queríamos também uma palavrinha a sós com vocês, bandidos. Seis palavrinhas, quero dizer. Afinal, nossos guerreiros já estavam no vestiário. Cada um dos dezoito mil palestrinos botou os pingos nos i’s, ligou as pontas soltas e descobriu, ao mesmo tempo, que eles sempre quiseram acabar conosco. Façam oba-oba! E agora? Quem é o líder? E vocês merecem porque são safados e safado tem mais é que ter na cavidade mesmo. E sem pomada.
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