11 setembro 2008

Vanusa: uma artista

Esta semana, o grupo Trovadores Urbanos trouxe ao Villaggio, como convidada para seu projeto Canções Paulistas, a cantora Vanusa. A intenção era prestar um tributo ao falecido cantor e compositor Antonio Marcos, seu ex-marido, onde ela cantaria algumas músicas dele e sucessos dela.

Confesso que fiquei bastante curioso ante a possibilidade de rever um dos nomes mais intrigantes da MPB - pelo menos pra mim.

Como cantora, Vanusa sempre foi tachada de brega, cafona, ou, no mínimo, desafinada. Uma artista forjada, que teria sobrevivido à sombra de um casamento polêmico, marcado por brigas expostas à mídia da época, e que, após a separação e posterior morte de A.M., simplesmente havia desaparecido do mercado.

O fato é que ela foi muito, mas muito famosa. Sinônimo de "loura fatal", apelidou até jogador de futebol; trabalhou com os Trapalhões, gravou versão de dance music; enfim, durante muitos anos o Brasil inteiro soube quem era Vanusa.

No palco da minha modesta casa, após um comovente "pout-porri" dos Trovadores com músicas de A.M. (quantos sucessos, hein?), a ex-diva subiu e começou falando da emoção que estava sentindo, que tinha adorado o grupo, etc. e tal. Uma simpatia - em nada parecida com a "fera" que se diz por aí.

Contou histórias do casamento e da carreira, em versões bastante coerentes com tudo que se encontra em leituras pela internet. Sem dúvida, ali estava uma guerreira: mulher sofrida, mas alto-astral; estrela da mídia, mas que sempre teve seu talento questionado. O público foi sendo hipnotizado.

Depois, cantou e cantou. E uma energia fantástica se instalou ali. Ao final, a platéia aplaudiu freneticamente e não queria deixá-la descer. Uma consagração, mais do que merecida.
Hoje, a meu pedido, meu mano mandou, em MP3, seus dois maiores (estrondosos, aliás) sucessos radiofônicos - Manhãs de Setembro e Paralelas. Ouvi com atenção, várias vezes, já que não me recordava direito das gravações originais.

Querem saber? Não ficam devendo nada aos grandes clássicos da MPB: belas músicas, excelentes arranjos, e uma voz absolutamente personal. Timbre marcante, extensão vocal surpreendente, boa técnica, pouquíssimas desafinações.

Sua versão de Paralelas - que ela garimpou do então desconhecido repertório do Belchior e deu a sua cara - jamais foi superada, nem mesmo pelo autor. E Manhãs..., apesar de um tanto melosa, é uma deliciosa balada.

Fiquei com a clara convicção de que Vanusa é uma artista de verdade, que fez por merecer seu lugar na história da música brasileira. E que merecia - também - avaliações e tratamentos melhores, dos seus pares e do público (aquele mais metido a besta - já que do povão sempre as teve).

Acorda, Brasil musical!

Um comentário:

Anônimo disse...

Exemplo sintomático de tudo o que vc disse: essas músicas da Vanusa que lhe mandei sempre estiveram na minha pasta nominada "MPB", nos meus arquivos. Cheguei a questionar, quando as baixei, se ela devia ficar na pasta "BREGA", mas não, é MPB, mesmo. E não fica destoando, não. Repousa muito bem nesse tema, e por lá ficou.
Bj do mano!