31 agosto 2009

Villaggio Café, a saga. Último capítulo - O fim.

"O Villaggio é daqueles lugares que ficarão no imaginário do público, como um Zicartola da vida, um lugar quase mítico." (Zeca Baleiro)

E aqui vamos nós para o derradeiro capítulo. Em todos os sentidos.

Sim, pois - ainda que forçosamente - a saga se encerra em definitivo.

Dia 29 de agosto de 2009 foi o último dia de funcionamento do Villaggio Café, após exatos 17 anos, 2 meses e 12 dias de vida. Uma noite iluminada, com casa absolutamente lotada de amigos, repleta de energia positiva e calor humano. Inesquecível e emocionante.

Quando digo forçosamente, na verdade, não estou sendo totalmente verdadeiro. Houve, sim, uma razão prática, técnica por assim dizer: o imóvel onde estávamos instalados (e mais três vizinhos) foi comprado por uma dessas incorporadoras, que vai demolir tudo e construir ali um edifício.
Sabíamos disso desde o último janeiro e, de lá pra cá, foram grandes os esforços para ficar o máximo de tempo possível, envolvendo advogados de ambas as partes e negociações diversas. Conseguimos esticar ao máximo, mas, diante da possibilidade de uma disputa judicial desgastante e, mais do que isso, incerta, capitulamos.

O que poucos sabiam é que eu já vinha pensando em parar, mesmo. No final do ano passado, até colocamos o ponto à venda.

Pode parecer estranho, mas depois da mudança para Pinheiros muita coisa aconteceu pelo meu lado pessoal. Questões familiares, econômicas e profissionais resultaram num intenso desejo de mudar de rumos e de ares. Depois de 24 anos por aqui, eu estava muito cansado de várias coisas, mas que poderiam se resumir a duas: esgotamento com as mazelas de São Paulo (em especial, o trânsito) e com o trabalho noturno. Além de um certo desencanto com os caminhos que, há anos, vem tomando a música brasileira - da maneira que eu considerava interessante para dirigir minha vida.

Juntou-se a isso o saco cheio com as perseguições que os bares vêm sofrendo nos últimos anos: fim da consumação mínima, pressão do PSIU, Lei Seca e, recentemente, Lei Anti-Fumo. Dono de bar está virando bandido, o grande bode expiatório dos problemas nacionais. É muito difícil sobreviver trabalhando sob tanta pressão.

Bom, mas essas questões particulares ficam pruma outra hora. A verdade é que, se por um lado eu brigava para segurar o Villaggio por mais tempo, por outro não conseguia disfarçar um certo alívio ao ver que a história do bar estava para se encerrar - e eu não seria o grande vilão disso.

Fato consumado, havia - claro - a possibilidade de se tentar prosseguir em outro local. Descartei. Não senti a mínima motivação para encarar a parada, pouco mais de um ano depois da trabalheira que foi sair do Bixiga para Pinheiros. Procurar ponto, reformar, investir, divulgar esperar o espaço "pegar"... Tudo novamente? Ufa! Sem chance, parei.

Aliás, saber a hora de parar é fundamental na vida.

E a realidade foi que acabou o Villaggio Café.

Abro um parênteses pra falar um pouco sobre a experiência em Pinheiros.

Foram 16 meses de grande satisfação. A sociedade com o Vlado Lima foi tranquila, acabamos virando amigos pessoais e irmãos de fé. A agenda andou sem grandes problemas, os shows rolaram normalmente e o público - até onde sei - aprovou a mudança. Com mais espaço de salão e palco, além de uma cozinha melhor equipada, pudemos trabalhar com mais efetividade e o faturamento aumentou cerca de 50%. Ótimo.O restaurante não deu certo, um pouco por falta de experiência nossa, outro pela baixa capacidade de investimento.

Um capítulo importante aqui foi, claro, a parceria com o Clube Caiubi de Compositores, ocupando todas as segundas com grande sucesso e bons resultados em geral. Mais do que parceiros, desenvolvemos laços de amizade sincera e as duas partes acabaram ganhando com a visibilidade trocada. Do Caiubi veio também o evento mensal Sopa de Letrinhas, criado e dirigido pelo Vlado, que acabou virando hit da imprensa, pintando em diversas matérias em cadernos de cultura.Muito legal tudo o que veio dos caiubistas. Sorte e sucesso pra eles.

Enfim, o Villaggio em Pinheiros deu pé. A casa fechou com estilo: grade de shows completa e disputada como sempre, bom de público e de renda.Mas o mais interessante, acredito, foi ter conseguido manter a marca além do espaço físico. Depois de mais de 16 anos atrelado ao bairro do Bixiga, ao arriscar mudar de endereço o Villaggio Café provou ser uma grife, que extrapolava a situação física das suas dependências. Isso, a meu ver, foi uma grande conquista, prova de que o conceito é que se solidificou.

Tanto que, acredito, tenha capacidade de até retornar um dia. Quem sabe? O futuro a Deus pertence, é o que o povo diz.

Como tal hipótese não está sendo considerada no momento, o que fica aqui é um enorme agradecimento a todos que estiveram ao nosso lado nesses anos todos.

Estou de mudança para São José dos Campos, a uma hora de SP e um pouquinho mais da minha São Sebastião. De longe, ficarei torcendo para o sucesso de todo mundo e curtindo a memória de tantas noites inesquecíveis.

Encerro dizendo que a sensação é de realização total e de "missão cumprida".

Valeu gente; muito obrigado por tudo e um grande abraço!

2 comentários:

1/2 Dúzia de 3 ou 4 disse...

Zé. O Villaggio só fez abrir portas para todos que por ali passaram. Muito agradecidos pelo respeito, profissionalismo e ideal mantidos por todos esses anos.

Devemos a vocês a realização de um sonho. Pendura aí que depois pagamos.

1/2 Dúzia de 3 ou 4 beijos,
Nóis

Daniel Luppi disse...

bar que já deixou saudades!
Fui frequentador no endereço antigo. Só lamento ter conhecido o endereço novo tão tarde.
Abraços