06 setembro 2009

Rumo ao Vale

Sempre gostei de mudanças. Desde que larguei a vida boa na praia em 1985 e vim sem um tostão pra SP me jogar de cabeça nas possibilidades paulistanas, nunca me acomodei.

Um pouco antes, com tenros 17 anos, já havia deixado o lar-doce-lar pra fazer cursinho e faculdade, inacabada. Voltei pra praia e fiquei mais uns anos no BB. Nesse período, trabalhei alguns meses emprestado numa agência no Mato Grosso do Sul e depois pedi transferência pra cá.

Na bagagem, praticamente só uma mala de roupas. Morei em quitinete no Centrão e ralei pra caramba. Tive sorte, fiz carreira, cheguei a ser executivo na Superintendência e, belo dia, senti que era hora de mudar as coisas. Um bar, depois outro - que acabou me empurrando pro meio musical - e pedi demissão do banco.

Muitos foram contra: não se joga uma carreira de 17 anos fora impunemente - diziam. Mas deu certo. Algumas traves, claro, como a empresa de sonorização de festas que durou apenas dois anos, ou mesmo a produtora Meca, que até fez coisas grandes, mas também não vingou por certa falta de talento pra engolir determinados sapos.

Já a temporada de sete anos na gravadora Lua deixou muitos frutos que serão eternos: discos antológicos e um nome no mercado que a fez uma das poucas a sobreviver até hoje, também como distribuidora de discos. A base foi boa, como se vê.

O Villaggio durou quase 18 anos, inscreveu seu nome na história e gerou um baú de memórias extraordinário, além de muitos novos talentos da MPB fazendo sucesso por aí.

Aqui na Capital penso que realizei meus sonhos cosmopolitas. Curti intensamente as ofertas de cultura e lazer; as muitas oportunidades de negócios; e, principalmente, o brilho das luzes noturnas que deixaram marcas profundas de incontáveis noites de boemia - regadas a álcool, tabaco, palcos e amores.

Um grande patrimônio: a oportunidade de conhecer, conviver e aprender com um universo de pessoas interessantes e originais. Nesse ponto, São Paulo é imbatível: vida inteligente, cabeças pensantes, fauna criativa. Esse povo fez a minha cabeça (para o bem e para o mal) e a ele serei eternamente grato.

No mais, tive a casa que sonhei; nela plantei minha árvore e escrevi meu livro - através deste blog e dos CDs, shows e matérias de imprensa. E ganhei um filho que é hoje a razão da minha existência. Não é pouco.

Exatos 24 anos anos de São Paulo. E, nos últimos, sinais de que chegava a hora de mudar novamente.

Nada muito claro, apenas a consciência de que a metrópole não seduzia como antes. Contribuindo para isso, a total incapacidade de conviver com uma coisa que, mais do que representar transtorno e estresse, pra mim é sinônimo de perda do que mais prezo: liberdade. Estou falando do absurdo trânsito paulistano, que piora a cada dia e transforma um simples deslocamento, por mais singelo que seja, numa missão que nunca dá pra saber se será cumprida. Não consigo conviver com isso, não tem jeito.

Por outro lado, a imensa vontade de ter mais qualidade de vida: mais verde, mais oxigênio e menos barulho. E a necessidade vital de estar perto dos familiares e viver aquelas pequenas coisas cotidianas que nos dão tanto conforto e paz de espírito. Coisas da idade, certamente.

A bola da vez é São José dos Campos, uma cidade bem interessante por sinal. A opção é pouco radical, até por ser muito perto daqui e de São Sebastião, mas vai exigir grande readaptação e uma mudança de valores maior ainda.

Aos poucos, darei notícias aqui. Antes, um breve intervalo na Lente do Zé pra encaixotar as coisas em Pinheiros e desembarcar em terras joseenses - daqui a exatos nove dias.

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